terça-feira, 11 de março de 2014

História sem Brasão

    Conversando com algumas pessoas eu percebi o quanto a triste ideia de que família de pobre não tem história está enraizada no pensamento coletivo . Isso é tão absurdo quanto ofensivo, mas inexplicavelmente a maioria realmente acredita nisso. Crescemos associando a história familiar com brasões e linhagens nobres ou ancestrais europeus, o que não representa a maioria das pessoas e vou falar um pouco por que isso não faz a menor diferença para você saber mais sobre a sua própria história.

  
    Muitos de nós não conhecemos nossos ancestrais anteriores aos nossos avós e dificilmente isso faz alguma falta no dia-a-dia, então por que se importar? Por que saber mais sobre o nosso contexto nos faz ver nossa realidade de uma forma diferente, consequentemente a percepção sobre nós mesmos muda, se amplia e buscar essa expansão é o papel da genealogia.

     Quando pensamos em genealogia, normalmente a associamos a montagem daquelas arvorezinhas cheias de nomes e fotografias. Realmente muita gente começa desse jeito, afinal tem seu lado divertido, mas isso em si realmente não tem nenhuma importância sem uma história para ligar aquelas pessoas a você, pois de que adianta eu saber o nome do meu bisavô se não houver algo que me ligue a ele, uma história, um objeto? Talvez os dois. Às vezes aquele enfeite antigo que sua mãe tem pode conter uma grande história sobre seus avós e no momento em que você descobrir, aquilo não será apenas um objeto, mas uma lembrança e parte de você.

    Algumas pessoas ainda insistem em acreditar que sua família não tem nenhuma importância na "grande" história, aquela que associamos as lendas políticas e figuras icônicas conhecidas na escola, no entanto é crucial entender que a macro-história, como a chamamos, também é afetada por pequenos acontecimentos que constroem uma cultura sem necessariamente afetar uma população inteira imediatamente. Muitas vezes podemos explicar todo um contexto histórico global com uma micro-história familiar. Vou dar um exemplo da minha própria família:


    José Hommerding era meu bisavô. Sujeito simpático, saia a cavalo pelo estado com sua maleta de produtos vendendo de porta em porta, ganhando amigos pelo caminho, no entanto nem toda essa simpatia era suficiente para mudar o fato de que ele era alemão. Na verdade fazia gerações desde que seu antepassado havia chegado aqui, mas seus olhos claros e a língua enrolada não ajudavam a perder o estigma de estrangeiro, um estranho no ninho. Isso não foi um grande problema até que a sombra de Hitler amedrontou o sono das outras nações e o Brasil posicionou-se contra a Alemanha. Se falar como o ditador nazista no meio de um país inimigo já não fosse suficientemente ruim, o uso da língua alemã foi proibida com direito a prisão. Não demorou muito para que a população surtasse e começasse a perseguir a gente do meu bisavô. Como muitos ele acabou preso, mas conseguiu uma autorização para circula devido a seus bons antecedentes.

     Essa é uma pequena história que eu escrevi apenas com três informações: meu bisavô era caixeiro viajante, era uma pessoa amigável e havia um documento de salvo conduto permitindo sua livre circulação dato da época. Após algumas perguntas para minhas tias, somadas a um pouquinho de conhecimento de história mundial resultou numa bela história para contar. Isso é uma pequena partezinha de tudo que eu já descobri e ainda estou aprendendo perguntando coisas para minhas tias ou simplesmente parando para escutar quando uma memória delas vinha a tona. Tenho certeza de que ouvir esse tipo de relato não é um privilégio só meu, pois todos em algum momento gostam de contar coisas pelas quais passaram. Você pode se surpreender com o que pode descobrir dando ouvidos para seus avós, ou até mesmo seus pais, mas se sua família não é do tipo que gosta de relembrar os velhos tempos, você mesmo pode arregaçar as mangas e investigar. Eles podem não saber onde sua avó nasceu, mas com certeza seu pai deve lembrar daquela vez que ele derrubou a mesa com todo jantar em cima da visita ou quando sua mãe desapareceu na praia durante uma tarde de veraneio. Toda família tem histórias e se você estudar um pouco, pode descobrir a incrível história de você mesmo.

Espero que tenham gostado pessoal, um abraço!

Felipe Essy

2 comentários:

  1. Meu estimado amigo Felipe.

    Muito emocionante este teu texto, ainda mais para um pesquisador em genealogia.

    Parabéns, e continue escrevendo !!!

    GenealogiaRS
    www.genealogiars.com

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    1. Fico muito honrado em saber que consegui expressar essas ideias que mexem tanto com todos nós que amamos genealogia. Obrigado pela força, Nélio! Aquele abraço!

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