Conversando com algumas pessoas eu percebi o quanto a triste ideia de que família de pobre não tem história está enraizada no pensamento coletivo . Isso é tão absurdo quanto ofensivo, mas inexplicavelmente a maioria realmente acredita nisso. Crescemos associando a história familiar com brasões e linhagens nobres ou ancestrais europeus, o que não representa a maioria das pessoas e vou falar um pouco por que isso não faz a menor diferença para você saber mais sobre a sua própria história.
Muitos de nós não conhecemos nossos ancestrais anteriores aos nossos avós e dificilmente isso faz alguma falta no dia-a-dia, então por que se importar? Por que saber mais sobre o nosso contexto nos faz ver nossa realidade de uma forma diferente, consequentemente a percepção sobre nós mesmos muda, se amplia e buscar essa expansão é o papel da genealogia.
Quando pensamos em genealogia, normalmente a associamos a montagem daquelas arvorezinhas cheias de nomes e fotografias. Realmente muita gente começa desse jeito, afinal tem seu lado divertido, mas isso em si realmente não tem nenhuma importância sem uma história para ligar aquelas pessoas a você, pois de que adianta eu saber o nome do meu bisavô se não houver algo que me ligue a ele, uma história, um objeto? Talvez os dois. Às vezes aquele enfeite antigo que sua mãe tem pode conter uma grande história sobre seus avós e no momento em que você descobrir, aquilo não será apenas um objeto, mas uma lembrança e parte de você.
Algumas pessoas ainda insistem em acreditar que sua família não tem nenhuma importância na "grande" história, aquela que associamos as lendas políticas e figuras icônicas conhecidas na escola, no entanto é crucial entender que a macro-história, como a chamamos, também é afetada por pequenos acontecimentos que constroem uma cultura sem necessariamente afetar uma população inteira imediatamente. Muitas vezes podemos explicar todo um contexto histórico global com uma micro-história familiar. Vou dar um exemplo da minha própria família:
José Hommerding era meu bisavô. Sujeito simpático, saia a cavalo pelo estado com sua maleta de produtos vendendo de porta em porta, ganhando amigos pelo caminho, no entanto nem toda essa simpatia era suficiente para mudar o fato de que ele era alemão. Na verdade fazia gerações desde que seu antepassado havia chegado aqui, mas seus olhos claros e a língua enrolada não ajudavam a perder o estigma de estrangeiro, um estranho no ninho. Isso não foi um grande problema até que a sombra de Hitler amedrontou o sono das outras nações e o Brasil posicionou-se contra a Alemanha. Se falar como o ditador nazista no meio de um país inimigo já não fosse suficientemente ruim, o uso da língua alemã foi proibida com direito a prisão. Não demorou muito para que a população surtasse e começasse a perseguir a gente do meu bisavô. Como muitos ele acabou preso, mas conseguiu uma autorização para circula devido a seus bons antecedentes.
Essa é uma pequena história que eu escrevi apenas com três informações: meu bisavô era caixeiro viajante, era uma pessoa amigável e havia um documento de salvo conduto permitindo sua livre circulação dato da época. Após algumas perguntas para minhas tias, somadas a um pouquinho de conhecimento de história mundial resultou numa bela história para contar. Isso é uma pequena partezinha de tudo que eu já descobri e ainda estou aprendendo perguntando coisas para minhas tias ou simplesmente parando para escutar quando uma memória delas vinha a tona. Tenho certeza de que ouvir esse tipo de relato não é um privilégio só meu, pois todos em algum momento gostam de contar coisas pelas quais passaram. Você pode se surpreender com o que pode descobrir dando ouvidos para seus avós, ou até mesmo seus pais, mas se sua família não é do tipo que gosta de relembrar os velhos tempos, você mesmo pode arregaçar as mangas e investigar. Eles podem não saber onde sua avó nasceu, mas com certeza seu pai deve lembrar daquela vez que ele derrubou a mesa com todo jantar em cima da visita ou quando sua mãe desapareceu na praia durante uma tarde de veraneio. Toda família tem histórias e se você estudar um pouco, pode descobrir a incrível história de você mesmo.
Espero que tenham gostado pessoal, um abraço!
Felipe Essy
Meu estimado amigo Felipe.
ResponderExcluirMuito emocionante este teu texto, ainda mais para um pesquisador em genealogia.
Parabéns, e continue escrevendo !!!
GenealogiaRS
www.genealogiars.com
Fico muito honrado em saber que consegui expressar essas ideias que mexem tanto com todos nós que amamos genealogia. Obrigado pela força, Nélio! Aquele abraço!
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