segunda-feira, 21 de julho de 2014

O Triste Vencedor



  Um dia de repente acordei feliz. Não, eu não estava feliz, eu era feliz. Fiquei assustado, será que era normal? As pessoas ficam felizes assim? Não tem um transtorno psicológico com um nome para isso? Aquilo começou a me preocupar.

   Um homem é guiado pelo desejo de felicidade, então para onde ele iria se já fosse feliz? O que ainda resta para fazer se você já está satisfeito com tudo que tem? Teoricamente nada. Então comecei a me perguntar como eu viveria sem a insatisfação. Viveria acomodado aceitando o que me dessem? Ora, claro que não, pois vocação para hippie eu nunca tive. Foi então que percebi a coisa mais importante que perdi com a felicidade: o medo.

    Felizes nós deixamos de temer o passado e de nos preocupar com o futuro, a única coisa da qual temos medo é o de não sermos mais felizes, mas nem isso eu tinha, pois a felicidade já estava me incomodando. Como alguém poderia viver sem o medo? O medo me dizia o que não fazer, era o meu pai, o reverendo que me mandava ter juízo. E agora, o que eu faço sem ele? Então fiquei desolado ao perceber que não era mais um homem, pois uma pessoa é moldada pelas coisas que é incapaz de fazer, e o que faria se pudesse fazer tudo? Provavelmente não saberia o que fazer – e eu realmente não sabia.

    Desolado percebi que tinha enlouquecido. Não acreditava que qualquer terapia ou narcótico pudesse dar conta de tal mal, essa falta do vazio. Então cai em profunda tristeza por não ter o que chorar, atingindo o ponto inevitável para um homem em que o túmulo se torna um berço desejável, onde o corpo deitará e a alma terá sua calma devolvida, só que nem a morte me parecia mais tão boa assim, pois era justamente dessa paz que eu queria me livrar!

   Foi aí que eu me dei conta que estava com o pior dos males, o medo de temer! A ameaça invisível, o invasor que se espera no silêncio escuro e não se sabe de que lado vai vir. Novamente eu tinha medo! Feliz de mim que não era mais feliz! Soltei um suspiro terrivelmente aliviado. Que bom era não ser mais despreocupado, eu tinha enfim algo para me ocupar o vazio do peito deixado pela felicidade que não me foi suficiente. E assim, deitei minha cabeça no travesseiro sorrindo os pesadelos que teria.



Essa crônica foi mais um texto extraído do livro Prosa na Varanda do ano passado. Quinta-feira, dia 24 será o lançamento, às 19:00 horas no Qorpo Santo. Espero vocês lá, um abraço!

Felipe Essy

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