sexta-feira, 4 de julho de 2014

Mais Perto da Capital

    Recentemente um teaser de A Esperança Parte I foi divulgado no site The Capitol,criado como se fosse um meio de comunicação da Capital com os distritos, mesclando ficção e realidade. Essa presença da Capital no mundo real surgiu como uma linha de esmaltes "assinada" pelo personagem Cina durante a campanha promocional de Jogos Vorazes. A ideia cresceu no segundo filme com um site de moda das tendencias da Capital com estilistas renomados, mas essa brincadeira está tomando proporções cada vez maiores e questionáveis.


    Como bem sabemos, a Capital no livro representa o contraste de uma cultura urbana consumista alienada aos custos do seus altos padrões de vida aos demais. O diretor Gary Ross adaptou isso muito bem para as telas, investindo no contraste de cores e extravagância da Capital com a palidez dos outros distritos, no entanto enquanto a produção do filme reafirma a ideia da escritora Suzanne Collins, as campanhas publicitárias exploram uma outra via perigosa.

   Antes que o primeiro filme da franquia fosse sequer lançado, o anúncio de que uma linha de esmalte inspirada na saga seria produzida causou uma grande polêmica, tendo em vista a contradição entre história e campanha publicitária, mas a equipe responsável pelo projeto não desistiu e solucionou o problema batizando-a Cina Glaze "Colors from the Capitol", utilizando-se de um personagem querido pelos leitores e associando a uma iniciativa típica da Capital.


    O problema é que isso não parou por aí: Quando Em Chamas chegou aos cinemas, a história tomou uma proporção muito maior: Um site inteiro foi criado para hospedar toda uma iniciativa voltada para a moda inspirada na Capital, o Capitol Couture (Moda Capital), incluindo contribuições de grandes estilistas da casa Dior e Alexander McQueen,  além de vários ensaios fotográficos e textos voltados às "novas tendências". Tamanho investimento tornou o Capitol Couture um verdadeiro canal de moda luxuoso, incentivando o consumo criticado nos livros.

    Isso tudo poderia ser apenas uma brincadeira se não mexesse com conflitos reais da nossa sociedade, pois mostra a linha tênue entre nós e aqueles cidadãos que se divertem com 24 jovens se matando num programa de televisão. A Esperança é meu livro preferido dos três justamente por não ser sobre a queda da Capital, mas da construção de "Capitais" e nós somos partes tão ativas nesse processo quanto os Idealizadores dos jogos, pois consumimos o produto desse processo. Agora temos o site oficial da Capital, outra "brincadeira" promocional da campanha publicitária da franquia, onde podemos nos cadastrar, fazer parte de um distrito e ajudar a Capital da nossa amada Panem. Não que eu leve isso a sério, mas lembrando do filme A Onda, em que um professor realiza um experimento formando um movimento fascista dentro da sala de aula, é de se pensar que as capitais ditatoriais que abominamos dos livros de história não estão tão longe da nossa realidade.

Felipe Essy

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