terça-feira, 4 de março de 2014

Lapidando o Oscar 2014

    Buenas, pessoal! Com a entrega do Oscar, ficaram algumas dúvidas sobre os candidatos menos conhecidos e dúvidas quanto alguns que não levaram a estatueta para casa. Por isso o blog resolveu falar sobre alguns dos principais premiados - ou não - que passaram pelo tapete vermelho.



MELHOR ATOR - Matthew McConaughey (Dallas Buyers Club)

Matthew contracenando com DiCaprio em sua breve participação em "O Lobo de Wallstreet".
    Antes que se faça a inevitável defesa de Leonardo DiCaprio, há de se ressaltar que a premiação de Matthew no papel do irreverente traficante aparentemente não foi desmerecida, mas quando comparamos com a performance visceral de DiCaprio em O Lobo de Wallstreet, somando ao reconhecimento pendente de seus trabalhos anteriores em A Ilha do Medo, Origem, Prenda-me se for Capaz e por aí vai... fica evidente que sua premiação era necessária. Sendo assim, é óbvio que há alguma coisa errada aí.

    Todo mundo já viu DiCaprio apenas como o rostinho bonito sem talento por causa de Titanic, mas tudo bem, excesso de publicidade faz isso mesmo. Na última década porém ele realizou um série de atuações com diferentes propostas, muitos ao lado do diretor Martin Scorsese, incluindo O Lobo de Wallstreet, atingindo um amadurecimento profissional notável, cuja qualidade nem se discute no meio cinematográfico. Então surge o questionamento: "Por que a Academia rejeitou sua premiação pela quarta vez?" Como tudo, isso remonta provavelmente a algo muito anterior.


    Em 1997 Titanic foi indicado a 14 estatuetas, um recorde nunca repetido desde então, incluindo melhor atriz para Kate Winslet, no entanto o mesmo não aconteceu com Leonardo DiCaprio que não se conformou, embora tenha sido indicado ao Globo de Ouro. Indignado, DiCaprio recusou-se a ir a cerimônia o que aparentemente marcou sua "popularidade" na Academia. Não que DiCaprio precisasse de um Oscar, mas depois de quatro indicações, é de se perguntar a razão disso tudo, mas a opinião de DiCaprio sobre isso mostra que ele já não se importa muito com isso, como podemos entender no seu discurso debochado quando recebeu o Globo de Ouro esse ano por sua atuação em O Lobo de Wallstreet:
"Eu gostaria de agradecer a imprensa estrangeira de Hollywood, mas isso não é uma droga de Oscar, mas isso será muito útil como um peso de papel. A questão é, eu congelei minha bunda para deixar aquela vaca da Rose sobreviver e o que eu recebi um troca? Talvez eu devesse ter chamado a maldita Jeniffer Lawrence para interpretar o papel da minha vida. Eu me fodo trabalhando e tenho apenas quatro indicações e nenhuma estatueta. Eu acho que ninguém aqui nessa sala me entende. Ah, me desculpe, Amy (Adams). Eu esqueci que você estava aí.(indicada cinco vezes sem vencer). Esqueçam tudo que eu disse. Eu não estou agradecendo ninguém. Vocês todos deveriam se curvar diante de minha grandeza. Academia (Oscar), você pode chupar o meu pau."
Leia mais sobre o filme no post O Lobo de Wallstreet.

DIREÇÃO: Alfonso Cuarón (Gravidade)


    Com sete estatuetas, pode-se dizer que o diretor finalmente conquistou seu reconhecimento em Hollywood, meio esquecido desde sua breve participação na adaptação da famosa saga de J.K. Rowling com Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban. Sem dúvida a narrativa continua abusando de recursos de fotografia e som renderam a Cuarón sua parcela de mérito nas demais premiações técnicas do filme. Com as incríveis onze indicações ao Oscar, Gravidade ainda levou sete, satisfazendo a crítica e público maravilhados com a produção, no entanto mesmo sendo um ótimo filme de entretenimento, a superficialidade da história e inúmeras extrapolações (como os 10% de oxigênio que duraram metade do filme) comprometem um pouco a justificativa da história, o que compromete inevitavelmente o filme como um todo. Pensando nisso, talvez Martin Scorsese fosse o melhor candidato com a cinebiografia O Lobo de Wallstreet, mas apesar do grande trabalho, não é algo surpreendente vindo do diretor conhecido por adaptar a vida real para as telas como em O Aviador e Gangues de Nova York, além disso os últimos filmes de Scorsese receberam várias estatuetas, incluindo melhor diretor em Os Infiltrados. Sendo assim, é natural unir a aclamação de público com um incentivo a um diretor estrangeiro em início de carreira cinematográfica.


FOTOGRAFIA, EDIÇÃO E EFEITOS ESPECIAIS - Gravidade


     O grande mérito de Gravidade com certeza são os efeitos especiais, criados pela equipe de Tim Webber, que já havia trabalhado em Avatar, trabalho esse que já representa bem a competência do técnico. Se você olhar fotografias do set de filmagem sem o trabalho de Webber, você se surpreenderá com tudo produzido pela Framestore, responsável pelo desenvolvimento computadorizado do filme.Claro que cenários completamente projetados digitalmente não são novidade, mas a fidelidade do cenário e acabamentos continuam impressionantes. Sabendo disso é evidente a importância dos efeitos especiais para a fotografia do filme, pois era responsabilidade de Webber e sua equipe ajustar o nível de sombra nos objetos de cena até a formação da perspectiva de enquadramento. O que sempre foi motivo de discussão na academia e meio cinematográfico em geral é até onde o trabalho computadorizado não compromete a validade da produção artística, pois atuações computadorizadas como o personagem Gollum de Andy Serkis em O Senhor dos Anéis ainda são sumariamente descartadas das premiações, sob a alegação de que sua performance dramática era alterada demais pela computação gráfica. O questionamento que fica é se isso não se aplicaria também a fotografia, mas isso já é assunto para outro post.


TRILHA SONORA (Steven Price), EDIÇÃO E MIXAGEM DE SOM - Gravidade


    Um nome desconhecido até para mim que gosto de trilhas, Steven Price ainda está no início de sua carreira em Hollywood como compositor, mas assim que escutei o disco de Gravidade percebi uma grande semelhança com a trilha de Batman Dark Knight, de Hanz Zimmer e James Newton Howard, pois é uma caraterística marcante de Zimmer utilizar ruídos e sons inusitados para compor seus trabalhos, às vezes até perdendo um pouco de melodia para manipular melhor a percepção do espectador, o que pode gerar uma discussão sobre a indicação desse tipo de trilha que, ao mesmo tempo que não exatamente um disco de música como normalmente pensamos, também esmerasse na sua função principal que é completar o significado visual e ampliando seu efeito, o que com certeza foi muito bem feito por Steven Price, afinal não foi a toa que notei a semelhança entre ele e os compositores de Dark Knight, pois ele já trabalhou com ambos nos discos da adaptação de Christopher Nolan, além de se inspirar notavelmente no trabalho de Zimmer. Agora se isso faz de Steven Price o vencedor, depende muito se você acredita que uma boa trilha é aquela que ilustra adicionando significado ao filme as custas de seu valor como música independentemente da obra que integra.

Leia mais sobre o filme no post Gravidade Fora de Órbita.


FIGURINO E DESIGN DE PRODUÇÃO - O Grande Gatsby


     A premiação a construção estética do filme não se da apenas por retratar minuciosamente os trajes e cenários de época, mas pela dimensão desse trabalho inacreditavelmente realizado. Se já não bastasse produzir figurinos nos moldes da década de 20 para 30, Catherine Martin trouxe Miuccia Prada, neta do fundador da refinada marca, reproduzindo modelos originais tirados da coleção particular da família com fidelidade encantadora. Se já não bastasse essa ajuda de peso, Catherine ainda desenvolveu uma parceria com a famosa joalheria Tiffany que confeccionou peças especialmente para o filme causavam tanta agitação que a atriz Carey Mulligan tinha que ser escoltada toda vez que as usava em cena. Sem dúvida, uma premiação merecida pelo esmero da produção.



ANIMAÇÃO E CANÇÃO ORIGINAL - Frozen


     Há dez anos atrás o medo da industria de desenhos como a Walt Disney era a progressiva popularidade das animações computadorizadas que ameaçava o mercado pelo qual o estúdio havia construído sua imagem, no entanto passada a onda de comédias computadorizadas satirizando contos de fadas, a Disney percebeu que poderia utilizar os novos recursos para contar as mesmas histórias e Frozen é aparentemente um dos melhores trabalhos nesse sentido até agora. A narrativa cantada comum nos antigos desenhos e abolida nas animações modernas voltou ao cinema trazendo novamente as características lúdicas que consagraram o estúdio que foi um grande responsável pelo surgimento da categoria na premiação, pois somente depois de mais de 80 vagando entre os curta-metragens e melhor canção o gênero ganhou sua própria estatueta em 2001 com Shrek, embora outros desenhos já tivessem recebido prêmios especiais.

     Frozen traz de volta a essência dos desenhos Disney da protagonista feminina como uma princesa, no entanto conforme aprendeu em Valente, o estúdio altera o tradicional conto de fadas para uma história de amor entre irmãs e não de um casal, onde o centro da história é a busca da felicidade no eu e não no outro de uma forma mais atraente para o publico que não se identificou tanto com a independência egocêntrica de Merida. Somada a beleza do inverno num mundo de fantasia, Frozen arrebatou a estatueta de outras animações que ainda não se livraram dos moldes cômicos como Meu Malvado Favorito 2 ou infelizmente não conseguem vencer o preconceito cultural como os traços orientais de The Wind Rises. A animação de Walt Disney ainda levou para casa o oscar de melhor canção por "Let it Go", lembrando a presença quase invicta na categoria durante os anos 90.

Além destes, outros filmes também foram premiados. Como eu ainda não assisti para comentar, deixo o resto da listagem abaixo para você conferir. Um abraço!

Felipe Essy

Melhor Filme, Atriz Coadjuvante (Lupita Nyong'o), Roteiro Adaptado: 12 Anos de Escravidão.
Maquiagem, Ator Coadjuante (Jared Leto): Dallas Buyers Club.
Melhor Atriz (Cate Blanchett): Blue Jasmin
Melhor Documentário de Longa Metragem: 20 feets from Stardom
Melhor Documentário de Curta Metragem: A Senhora do número 6 - A Música Salvou a Minha Vida.
Filme Estrangeiro: A Grande Beleza (Itália)
Curta Metragem: Helium 

2 comentários:

  1. estou completamente decepcionada por Leo não ter levado o Oscar, já que ele vem provando a bastante tempo que amadureceu como ator!!!! Ele merecia de verdade. Frozen mereceu melhor canção, é tão fofa e quanto a animação mais uma vez uma princesa sem par romântico, que não está a caça de um príncipe e que decide abandonar sua vida por causa de seu "poder" para não prejudicar seu povo. a graça fica por conta de sua irmã que sai a sua caça e encontra um boneco de neve (que lembra o Burro de Shrek) e um carinha bonitinho para compensar o clima de romance. Em relação a Gravidade os Oscars técnicos foram merecidos.
    Fico me perguntando sobre toda a tecnologia de O Hobbit e se ano que vem o terceiro filme vai arrebatar todos e compensar a falta de estatuetas dos últimos dois!!!!! senti falta de Em chamas pois é um filme realmente bom.

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    1. Pois é, embora seja muito provável que O Hobbit seja indicado as categorias técnicas ano que vem, tenho sérias dúvidas quanto sua presença entre as categorias de roteiro, melhor filme e atores. Graças ao uso inédito que Peter Jackson está fazendo do 3D, dobrando o número de frames por segundo além de aprimorar consideravelmente a nitidez das capturas, com certeza o coloca entre os favoritos a melhor direção, mas sinceramente acho que os únicos méritos dessa trilogia serão os quesitos técnicos, por que em termos mais artísticos como roteiro é um filme bem razoável.

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