Buenas, pessoal! Muitos dos super-heróis mais conhecidos hoje em dia tem sua origem em momentos conhecidos da história, desde a famosa capa do Capitão América sentando o sarrafo em Hitler até o sequestrado original de Tony Stark por vietnamitas comunistas, mas existe muito mais do nosso mundo nas histórias em quadrinhos além disso e esse é o tema de hoje.
Nesses anos em que venho lendo quadrinhos eu pude perceber quanta profundidade essas histórias podem ter e algo que eu acho muito legal é que algumas conseguem representar problemas de diferentes momentos da nossa realidade ficcionalmente de uma forma criativa. Recentemente foi lançada a mini-série Noir, da Marvel, inspirada no gênero que explorava o Estados Unidos cheio de glamour, sangue e romantismo da década de 20 que é transposta para os quadrinhos numa releitura da origem de alguns super-heróis.
O expressionismo alemão adentrou a arte cinematográfica explorando o contraste de tons escuros na fotografia das películas e a América no seu auge da ostentação da elite antes da crise de 29 com o romantismo às avessas dos gangesters que cresceram no contrabando de bebidas em plena lei seca foi tudo que preciosou para criar vários ícones do cinema em preto e branco. Nesse contexto exato podemos conferir Homem-Aranha Noir, em que Peter Parker cresce instigado pelos discursos inflamados de reindivicação de sua tia contra Duende Verde e sua mafia de ex-aberrações de circo de horrores, provavelmente em referência ao filme Monstros (1932).
Outro personagem das HQs que reflete um lado sombrio do pensamento americano é o seu maior simbolo de cueca por cima das calças e tudo: Superman é a representação ideal do país exageradamente apaixonado por si mesmo que não respeita as próprias fronteiras e adora monopolizar o mundo ao seu favor. Na série Entre a Foice e o Martelo (Red Son) conhecemos um homem de aço soviético que não apenas desbanca o gigante americano na guerra fria, mas também enfrenta as consequências da sua supremacia sem limites.
Na primeira série de quadrinhos solo de Wolverine em 1982, podemos perceber o momento de reaproximação do mundo americanizado com a cultura ocidental, assim como na música e cinema, mas dessa vez o marrento canadense viu que mesmo nos aspectos mais desiguais do tradicionalismo do clã Yashida na havia coisas que o descaso sarcástico do homem de adamantium não poderia simplesmente resolver rasgando todo mundo.
Ao mesmo tempo que a musica pop oitentista parecia querer se livrar da ressaca revolucionária da década anterior, Allan Moore explorou a desilusão da utopias através daqueles que haviam vestidos fantasias em Watchmen para defender o mundo, mas não percebiam que o inimigo era ele mesmo, e aquele que marcou seu V de Vingança em 5 de Novembro inspirando a indignação do Brasil que cansou de usar o nariz de palhaço.
Se há personagens inspiradores, também a quadrinhos inspirados em seus leitores. Mark Millar constrói uma representação honesta dos jovens que curtem super-heróis em Kick-Ass com toda violência e sexo sem censura que qualquer adolescente está acostumado a ver. Kick-Ass poderia refletir uma sociedade que está tão exposta a estímulos que precisa cada vez mais de extremos para ser atingida, mas essa teoria pode se desfazer na sensibilidade de Laços, em que temos a origem dos personagens de Maurício de Souza recontada numa história cativante inspirada em filmes de aventura dos anos 80 como Goonies e Conta Comigo, fazendo nos lembrar da beleza que coisas tão básicas e simples como uma boa história pode ter, seja em quadrinhos ou não.
Felipe Essy
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