terça-feira, 29 de outubro de 2013

Gravidade Fora de Órbita



         A produção tão comentada estrelada por Sandra Bullock não tem nada além do próprio título - ou melhor, a ausência dele - e sua protagonista. A maestria da direção e fotografia é inegável, pois num filme com pouquíssimos diálogos e onde temos uma narração basicamente visual esses são fatores decisivos e muito bem desenvolvidos pelo diretor Afonso Cuarón, mas falta de um enredo mais denso e a constante exploração do impossível em cenas que subestimam o bom senso do espectador acabam por transformar Gravidade em apenas mais um filme de entretenimento, mas continua ótimo como tal se você não tem nada contra Sandra Bullock e George Clooney. O 3D é totalmente dispensável, então compre um pipoca maior e divirta-se. Curte aí um pouco mais sobre o filme:

Spoilers adiante

       Com a crítica e publico elogiando Gravidade como um dos melhores filmes do ano, eu realmente estava esperando muito já que é nem todo mundo gosta de histórias no espaço e muito menos da Sandra Bullock fora das comédias românticas, embora ela já tenha mostrado que sabe interpretar fora dos papéis que repetiu dezenas de vezes. No entanto o que eu vi foi apenas um filme muito bem produzido, pois além do enredo se restringir apenas ao óbvio retorno a Terra, nossa aceitação do impossível é levada ao estremo várias vezes.


         Logo no início temos pela certeza que Ryan (Sandra Bullock) literalmente "foi para o espaço" quando ela é jogada longe de seus colegas durante uma colisão, mas somos surpreendidos quando seu parceiro Matt (George Clooney) a resgata com sua mochila propulsora, mas como a veracidade disso depende de sabermos alguma coisa sobre assunto, todos deixam isso para lá. Não obstante, o oxigênio do traje de Ryan está baixo e os 10% dele duram quase metade do filme, incluindo um bom trecho em que ela conta apenas com o oxigênio - e o gás carbônico! - contido em sua roupa espacial, mas nossa capacidade de raciocínio é posta a prova máxima quando a personagem Ryan consegue operar perfeitamente uma nave chinesa como se o painel e o sistema operacional fossem idênticos aos usado pelos Estados Unidos. Melhor que isso só os antigos filmes americanos em que todos estrangeiros falavam inglês.  Essas e outras pérolas do filme são apontadas por astronautas em 5 Coisas Que Não Poderiam Acontecer em Gravidade. Confira algumas outras listadas :


          A mochila propulsora, ou propulsor a jato, usada por Matt (Clooney), embora seja muito legal em Star Wars é algo obsoleto há mais de trinta anos e foi pouco usado por astronautas. Ele pode ser utilizado para pequenos deslocamentos perto da nave, mas jamais para percorrer grandes distâncias como vemos, que aliás também estão longe da realidade: A Estação Internacional e a Estação Chinesa não são nem um pouco próximas, tanto é que não se poderia chegar de uma a outra nem mesmo com um ônibus espacial, pois não haveria combustível suficiente: A Estação Internacional fica cerca de 600 km de altura próxima a linha do equador enquanto a Chinesa está sobre a Russia 160 km abaixo da órbita da outra estação.

         Nem só de espinhos é feito o ouriço: Sandra Bullock vive um grande momento da sua carreira em que deixou de ser a atiz engraçada de Enquanto Você Dormia (1995) e Miss Simpatia (2000) para explorar papéis mais complexos em dramas como Um Sonho Possível  (2009) e Tão Forte e Tão Perto (2011). Em Gravidade vemos uma Sandra Bullock amadurecida como atriz, enquanto já não se pode dizer o mesmo de George Clooney que ainda vive o garanhão de meia-idade. Sua participação no filme parece um acréscimo desnecessário a produção, pois embora ele consiga transmitir a simpatia do personagem, não conseguimos desvencilhá-lo dos papéis que ele reprisa em Gravidade. Melhor teria sido colocar um ator menos conhecido para contracenar com Bullock, afinal ela roubou todas as cenas mesmo.


           Embora eu tenha gostado do filme, pois ele como experiência cinematográfica é muito interessante, ele não apresenta muito além do deslumbramento técnico e o otimismo repetitivo do personagem de Bullock que superficializa a dramaticidade da situação algumas vezes. Enfim, Gravidade é um filme feito para entreter quem não tiver problema com histórias de ficção sem muito compromisso com a realidade, vale o ingresso, mas dificilmente uma outra exibição.

Felipe Essy

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