domingo, 28 de abril de 2013

Aquele Abraçaço


     Buenas, meu caros. Caetano Veloso é um dos “titãs” da música brasileira e ontem eu definitivamente entendi o porque, assistindo o show de divulgação do novo disco Abraçaço. Confiram oque rolou:


      A primeira coisa sobre a qual falar é a escolha do local do show. O Espaço Araújo Viana é um pequeno ginásio em formato de coliseu em seu interior, publico superior ao artista, o que permite que enxerguemos melhor a apresentação. O número reduzido de pessoas também permitir uma produção mais detalhada, além disso o excêntrico visual do teto do Araújo em formato de lona de circo sustentado por “teias” de metais entrelaçados da o toque de modernismo que o show de Caetano pedia.




     Caetano entra no centro do palco e estende seus braço abraçando simbolicamente a plateia, assim como na famosa foto num festival que apresentou pela primeira vez a canção “Alegria, Alegria”, no entanto com o significado afetivo agora. O show começa com “A Bossa Nova é Foda”, do novo disco. Muita gente ali ainda não conhecia esse novo trabalho, mas devo dizer que realmente gostei do disco. O “Abraçaço” é o terceiro álbum que Caetano gravou com a Bandacê, num projeto de utilizar o lirismo e sensibilidade do rock para construir músicas minimalistas, porém cheias de significados. O primeiro disco desse projeto, “” foi uma iniciativa bacana, mas pouco cativante se comparado a outros trabalhos de Caetano, no entanto “Abraçaço” mostra um maior entrosamento de Caetano e a Bandacê como um conjunto resultando nessa bela obra.


     Assistindo a apresentação eu percebi pela primeira vez a importância e função que um cenário no palco pode desempenhar num show musical. No início enxergamos apenas quatro quadros enigmáticos sobre cavaletes cercados de um cenário totalmente preto. O primeiro era branco com duas linhas pretas cruzadas no centro, o segundo era um quadrado preto com borda branca, o terceiro era branco com uma esfera preta na diagonal superior e o último era um quadrado vermelho com borda branca. A princípio eu achei que cada quadro representava um integrante (três da Bandacê e Caetano), mas o significado verdadeiro eu somente entendi depois:


   Na música “Um Comunista”, ao mesmo tempo em que é feita uma referencia ao contemporâneos revolucionários de Caetano durante a Ditadura Militar nos anos 60, também se critica os governos comunistas atuais que “guardaram o sonho” de seus ideais por interesses políticos. Esse sonho guardado é representado pelo quadrado vermelho dentro de outro quadrado branco. Em “Triste Bahia” entendemos o significado do quadro com duas linhas pretas cruzadas no centro, simbolizando a encruzilhada de decisões da partida da terra natal em busca de um futuro melhor, dito na letra. A próxima música, “Estou Triste”, revela outro quadro: O quadrado preto dentro de outro branco representa a melancolia de uma tristeza guardada que não se divide com ninguém. O “Funk Melódico” de Caetano faz uma sátira do gênero carioca hoje tão superficial usando palavras exageradamente pomposas ilustradas pelo quadro branco com uma esfera preta descentralizada simbolizando as palavras desorientadas cantadas nos funks que perturbam nossos ouvidos por aí. 

     A montagem do cenário e performance das músicas foi totalmente guiado pelo conceito do disco. O encarte do álbum mostra fotos que Caetano tirou “usando” a Bandacê como se fosse uma extensão de seu corpo. Confiram algumas fotos:




      Essa ultima foto inspirada no Homem Vitruviano de Da Vinci é reproduzida no palco com uma pequena coreografia que deixou o show bem bacana. Caetano também aproveitou esse projeto para literalmente se despir de seus parâmetros: Ao contrário do tradicional banquinho e violão, Caetano tocou em pé indo de uma lado para o outro fazendo graça para a plateia, incluindo tirar a camisa e se atirar no chão. Nada mal para os seus atuais 70 anos.


    Eu nunca havia assistido um show do Caetano e estranhei o fato de ele não falar com o publico com exceção de um momento. Apenas entrar, cantar e sair. Normalmente isso transmitiria uma certa indiferença, mas foi muito pelo contrário: Caetano sorriu durante todo o show e várias vezes mandou abraços e beijos para o publico, brincando, de forma que sua simpatia era quase palpável e ele conquistou a todos sem “dizer” uma palavra. Curioso é o fato que houve um episódio semelhante no famoso Festival de Música Brasileira em 67: Assim que Caetano subiu ao palco ele foi vaiado. Sem dizer uma palavra ele encarou o publico por detrás do microfone e começou a cantar. No final, ele foi ovacionado com aplausos que retribuíam seu enorme sorriso sem palavras.




     Até certo momento, estávamos todos confortavelmente sentados em nossas cadeiras de madeira macia, mas eu sentia um desconforto. Por mais suave que algumas músicas pudessem ser, eu não consigo ouvir algo tão bom e ficar sentado como se estivesse assistindo televisão. Foi então que todos se empolgaram com um refrão e se levantaram dançando em seus lugares. Caetano então chamou com as mãos e todos saíram de seus lugares para frente do palco, algo realmente bonito. Isso sim é um show, é cantar a canção batendo pé e se mexendo sem saber por que. Verdade é que eu não pude sair muito de onde eu estava por falta de espaço, pois eu realmente não sei como coube tanta gente lá. Caetano encerrou o show com “A Luz de Tieta” e “Outro”, deixando o eco do refrão na boca e saudade no peito de quem lhe ouviu sorrir.

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