Quando os musicais surgiram nos palcos dos grandes teatros, as musicas escutadas pelo povo eram mais próximas do erudito e isso refletia imediatamente nas produções da época que sobrevivem até hoje como O Fantasma da Ópera e Os Miseráveis. Desde então a musica popular ganhou espaço e dominou o mercado do entretenimento, tornando esse tipo de obra distante da realidade do grande publico e por isso filmar um musical é sempre um trabalho de pouco reconhecimento. Nessa nova produção, Tom Hooper, que já havia sido muito premiado por Discurso do Rei (2010), decidiu construir um filme musical tradicional em que as canções não ilustram apenas, mas são usadas para narrar a história, havendo pouquíssimos diálogos. Apesar de ser um dos melhores méritos do filme, também se torna o seu maior problema, pois muita gente seduzida pela divulgação e não tão acostumada assim a esse gênero se cansou rapidamente contando os minutos para sair da sala de cinema – que não foi o meu caso.
Eu sempre gostei de música e com o tempo passei a curtir também musicais. Com toda “propaganda” do Oscar e aquela cara de blockbuster, eu achei que seria um filme mais popular, digamos assim, mas assistindo eu percebi que ele foi produzido para ser uma obra e não um produto de entretenimento. Eu amei o filme, a trilha originalmente composta por Alain Boublil e Claude-Michel Schönberg para os teatros foi excelentemente reinterpretada e adaptada para o cinema e, embora não seja original, injustamente não premiado de alguma forma a não ser por algumas indicações pela mixagem de som e uma canção.
Hugh Jackman e Anne Hathaway |
Hugh Jackman, irreconhecível |
A primeira cena do filme mostra um grupo de prisioneiros numa cena em que quase se pode tocar a desgraça daqueles homens, mas um em especial é destacado, Jean Valjean, aparentemente um velho acabado. De repente alguém ao meu lado me perguntou: “É o Hugh Jackman?” Minha primeira resposta quase foi um deboche ouvindo o absurdo, mas olhando mais atentamente fiquei chocado percebendo que aquele miserável era realmente o ator eternizado em nossas mentes como Wolverine. Se Jackman queria se livrar do papel anterior, conseguiu com êxito numa atuação intensa mostrando sua grande habilidade vocal. Ao contrário do que acontece normalmente, depois de quase dez anos no cinema Anne Hathaway, que já estava consolidada no meio cinematográfico em papéis de pouco impacto, recentemente atingiu o auge de sua carreira realizando diversos trabalhos de sucesso um após o outro desde 2010 quando finalmente deixou seus papéis cômicos para trás e se aprofundou em dramas e personagens mais fortes. Outros atores como Russell Crowe e Helena Bohan Carter não mostraram nenhuma atuação diferente de seus papéis repetitivos e não se destacaram musicalmente, a não ser talvez por Sacha Baron Cohen (o dono de bar trapaceiro), famoso por sua atuação em Borat (2006), que também veem se destacando em papéis caricatos, porém fazendo diferentes atuações.
Helena Bohan e Sacha Baron |
Gostei do filme, mas nem tudo são flores. Mesmo gostando muito da trilha e da produção, o filme construiu uma história muito grande sem se preocupar em dar dinamicidade ao ritmo narrativo, deixando muito a desejar na edição e fotografia que pareceu praticamente não existir. Creio que esses são os únicos aspectos que realmente prejudicam o filme, pois o resto é questão de gosto por que musicais não são para todo mundo e quem conhece sabe disso. Por ser um filme de época eu esperava mais dos figurinos também, mas não fizeram nem mais nem menos que o necessário para o filme ter uma boa produção.
Enfim, alguns torceram um nariz, outros choraram, outros dormiram e outros foram procurar a trilha sonora para escutar no outro dia (advinha quem?), de qualquer forma é notável a qualidade da produção e a competência do elenco. Um ótimo filme para quem gosta de musicais, mas eu não o indicaria Os Miseráveis a quem não estivesse familiarizado com esse gênero pois qualquer semelhança com o cinema ou a música atual é mera coincidência – ou um milagre.
F. Essy
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