segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Minha Vida Crônica I

Chuva lá fora.

Caminho pela cozinha em procura do bule. Lá esta ele. Agarro sua alça e suspendo seu peso, felizmente estava pela metade. No silêncio do meu café fora de hora, meu pensamento corre entre meus ouvidos, onde aparentemente não há nada de especial. Meu nome é Rafael, tenho 21 anos e moro em São Bernardo, uma cidade que ainda tem mais árvores do que pessoas, mas foi-se o tempo em que eu não olhava para os dois lados. Meu pai já morreu, meus tios não. Tenho carteira de motorista, mas não tenho carro e o meu saco está sempre mais cheio do que eu gostaria.
Quente. Minha boca aos poucos se acostuma com o calor do café. Bom... Do jeito de sempre. Meus olhos se erguem da caneca e vislumbram o mundo lá fora se derretendo em ondas de água que correm sobre a janela. Visão agradável. A chuva sempre me conforta. É como uma absolvição dos pecados meus e do mundo. O barulho dos tiros de água sobre o telhado, o gotejar sobre o chão do pátio, a súbita consciência de que o mundo lá fora está vivo, de alguma forma tudo isso me faz esquecer de mim e do amanhã. Mas é cada vez mais raro poder esquecer que ele vem. Todo dia eu acordo esperando o dia terminar e por mais que eu trabalhe, estou sempre no mesmo lugar. Eu perco os cartões de aniversário e guardo as contas, como todo mundo. Sinto saudades do tempo que eu era criança: o tempo era longo, o pátio era grande e qualquer folha de jornal bem dobrada sobre a pia cheia d’água era uma fonte de diversão interminável. Hoje quanto mais eu ganho, mais eu percebo que o que eu tenho é menos do que eu preciso. Me pergunto como eu vou viver depois... como as coisas vão ser, mas acho melhor ouvir a chuva e deixar ela me levar para terra. Amanhã talvez eu cresça uma laranjeira para alguém subir como eu fiz um dia.
A chuva lá fora.


Olá pessoal, essa é a primeira crônica da série que eu vou começar a escrever. Eu quis fazer um personagem inspirado nas semelhanças entre várias amigos meus. Embora tenha muitas coisas de mim também, as crônicas não são minhas, são do personagem. Escolhi o nome Rafael por que todo mundo conhece algum Rafael, mas não é tão fácil de achá-los por aí.
Sendo assim, representam um pouco da gente mesmo. Espero que gostem, um abraço.


F. Essy

2 comentários:

  1. Gostei!
    Tenho a impressão de que é uma sensação comum a quem está se formando em Letras hehehe.
    Um abraço ;-)

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