terça-feira, 8 de abril de 2014

Uma Volta pelas Trilhas

     A trilha sonora, assim como a fotografia e efeitos especiais, é um recurso que pode ser usado como um complemento ou elemento principal em um filme, não raras vezes ela o transcende e ecoa durante décadas como os grandes temas do cinema, mas cada trilha tem uma proposta e é sobre elas que o blog divaga hoje.


     As trilhas sonoras surgiram antes mesmo que o cinema tivesse som, pois enquanto os filmes mudos eram exibidos era comum um pianista acompanhar a exibição estabelecendo ritmos alegres ou tristes para complementar a narrativa. Essa talvez seja a forma mais fácil de compreender como a trilha funciona, pois ela pode ser apenas uma camada de fundo ou ser usada para transmitir informações que a imagem não consegue. Como o cinema surgiu muito antes que instrumentos elétricos e outros recursos modernos estivessem à disposição, é natural que as trilhas tenham se desenvolvido por muito tempo através das orquestras sendo a forma mais comum de ilustrar um filme ainda hoje. Assim acho justo começar com atual mestre desse estilo mais tradicional que continua a compor músicas surpreendentemente criativas para uma modalidade tão revisitada: John Williams.

John Williams no centro, acompanhado de Steven Spielberg (dir.) e os personagens marcantes dessa parceria.
     Williams é um veterano em Hollywood e compôs alguns dos temas mais conhecidos do cinema. Dentre seus trabalhos conhecidos, pode se destacar os temas de TubarãoE.T.Jurassic Park, Star Wars, Indiana Jones e Superman, que associamos aos filmes assim que os ouvimos e não apenas como uma vinheta, mas como uma representação musical da essência da história. Harry Potter e a Pedra Filosofal é um de seus melhores trabalhos onde podemos perceber a versatilidade de Williams em criar canções que conseguem representar a fantasia de um universo fantástico com músicas que não apenas repetem um tema constantemente com pequenas variações, como normalmente é feito, mas sequências totalmente diferentes - e geniais. No site Film Music Notes, o canadense Mark Richards analisa a faixa Hedwig’s Theme, que inicialmente era apenas o tema da coruja de Harry e se tornou a principal canção do filme. Reproduza a canção abaixo enquanto estiver lendo o trecho a seguir:



      O solo de celesta (piano com sons metálicos) combinado com alguns efeitos introduz uma atmosfera lúdica e misteriosa prestes a se anunciar com o acompanhamento de violinos que crescem ao fundo (0:34) se transformando numa sequência de cadências e progressões de cordas que lembram o voo da coruja, ao mesmo tempo que intensifica a atmosfera mágica do filme. Assim a trilha integra um filme como outra camada narrativa e não um mero fundo musical, mas conforme surgiram novas formas de representar visualmente uma história, as trilhas também desenvolveram outros meios.

Hans Zimmer absorto em sua ilha de trabalho.
       Hans Zimmer se tornou conhecido por explorar a melodia de ruídos e sons distorcidos para transmitir ao espectador a sensação do personagem em cena, ampliando a significação dos efeitos de som para criar metáforas musicais, de uma modo semelhante ao feito com os instrumentos tradicionais. Em Batman - O Cavaleiro das Trevas, Hans usa ruídos agudos e inconstantes feitos com a fricção repetitiva de um arco sobre as cordas de um instrumento para lembrar a tensão de um momento, por exemplo. Zimmer se aprofundou tanto nesses recursos em Batman que sua trilha se tornou um mero adorno sonoro para o filme perdendo sua fluidez musical própria, mas um equilíbrio entre a função e forma desse estilo pode ter resultados incríveis:

      Em O Homem de Aço Zimmer utilizou suas técnicas características apenas para ilustrar a perspectiva interna dos personagens enquanto destacava os temas do filme em sequências de progressão musicais transmitindo a ideia de superação e heroísmo, mas de uma forma contida para evitar o lúdico típico da versão clássica de 1978 composta por John Williams. Zimmer fala um pouco sobre sua forma de compor trilhas nesse breve vídeo de The Concious of Creating the Film Score (sem legendas):



      Assim como Hans Zimmer utilizou sons inusitados para criar uma nova maneira de integrar a música em filmes, a dupla Daft Punk utilizou elementos de música eletrônica fundidos com instrumentos eruditos para não apenas imergir o espectador na atmosfera de Tron - O Legado, mas criar o próprio ambiente do filme como uma ferramenta narrativa. Ao contrário de Hans Zimmer, o Daft Punk utilizou recursos eletrônicos para criar uma trilha tradicional, usando referências características de temas de videogames e hits dos anos 80 para criar uma realidade virtual épica numa espécie de cyber-ópera, nos fazendo sentir como um "usuário" daquele universo. Por isso o diretor Joseph Kosinski optou por cenários escuros e simples, deixando espaço para que a trilha nos provocasse a preencher o resto. A faixa "The Grid" resume um pouco essa ideia, progredindo conforme o narrador (Jeff Bridges) conta como entrou na Grade (uma realidade virtual):


      Um arpejo de metais anuncia a imersão do espectador (ou usuário) na história que começa com um sintetizador lembrando os jogos de videogame oitentistas. "A Grade. Um fronteira digital. Eu tentei imaginar conjuntos de informação como se elas se movessem pelo computador." E assim que "movessem pelo computador" é dito, um sequência continua de cordas começa a crescer como se representassem os elementos vistos pelo narrador. "Com o que eles se pareciam? Naves? Motos?" Os violinos dominam a música como se as naves e as motos tomassem o ambiente descrito. "Com circuitos feito estradas." A sequência cresce antecipando um fato que será revelado pelo narrador. "Eu continuei imaginando um mundo que eu pensei que jamais veria. E então um dia... Eu entrei." No momento da revelação os sintetizadores envolvem o espectador na atmosfera virtual do filme como se ele também entrasse no jogo.


     Espero que tenham gostado do post, pessoal, por que eu realmente gosto de falar sobre trilhas e poderia escrever mais se a postagem já não estivesse atrasada. Um grande abraço!

Felipe Essy

3 comentários:

  1. Respostas
    1. Muitos disseram na época que a trilha superava muito o filme, ganhou até um disco com versões remixadas. Tron é uma das minhas trilhas preferidas ;)

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  2. Trilhas sonoras complementam muito os filmes ! Algumas músicas a gente começa a ouvir e lembra daquela cena, e em outras, a música complementa e muito a cena !

    Imagina por exemplo aquela cena do tiroteio do primeiro Matrix, sem a música ? Não ia ter a mesma graça !

    Muito legal o post Felipe ! Abraços !!
    (Adriano - amtonline.com.br)

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