quarta-feira, 11 de setembro de 2013

A Saudade de Letícia Persiles

       Buenas, pessoal! Um tempo atrás a banda Manacá chamou a atenção de todos com sua música que misturava  o romantismo dos ritmos regionais com agressividade da guitarra e bateria, emoldurados pela voz cativante e sedutora de Letícia Persiles, que com seus vestidos de retalhos deu a banda a identidade visual perfeita para seu conceito de antropofagia cultural. Após enquadrar seus olhos de ressaca em Capitu e protagonizar a novela Amor Eterno Amor, a cantora lança seu primeiro disco solo As Cartas de Amor e Saudade que eu comento no post de hoje.


       Eu conheci a Letícia Persiles através do trabalho dela com a banda Manacá e com o fim go grupo em 2010, os fãs da banda ficaram esperando pela sequência do trabalho musical dos integrantes. Enquanto o guitarrista Luiz César trazia à vida o maravilhoso projeto Turmalina com o letrista Diogo Brandão, havia muita expectativa sobre o próximo passo musical da vocalista Letícia Persiles. Seu primeiro disco solo, As Cartas de Amor e Saudade, ao mesmo tempo que sacia nossa saudade da voz de Letícia, também nos faz conhecer melhor a a cantora dos olhos verdes.



        Nesse álbum, percebemos os elementos poéticos e folclóricos marcantes no seu trabalho anterior, no entanto Letícia deixou a agressividade elétrica de lado para se aprofundar no romantismo e sensibilidade dos gêneros tradicionais, numa bela parceria com o acordeonista Toninho Ferragutti que sentimos logo na primeira faixa: Tamarametista toma das propriedades eufóricas da fruta para nomear a personagem apaixonada retratada na canção que começa no canto solito do violão castelhano, subitamente invadido pelas palmas que lembram o borboletear do amor que chega fora de compasso roubando nosso olhar: 

Luz de Ametista
tâmara de teus olhos
olhe os passarinhos a cantar!

Clareou e as estrelas 
lascou me um pedaço
deaço foram descansar.

Meu amante chegou
outro do coração
Hão de bater tuas asas, Amor.

     A melodia emanada dos arranjos de Ferragutti na música seguinte montam o cenário romanticamente nostálgico para emoldurar os versos de Letícia em Confeito Saudade. A canção parece pintar uma aquarela de uma sensibilidade interiorana, palco comum das influências folclóricas da cantora que começou como atriz nos tradicionais teatros de rua. Em No Passo do Passarinho, o cheiro de fábulas não é mera impressão, pois Letícia está curtindo a maternidade com seu filho Ariel que há quatro anos veem influenciando a perspectiva da artista nesse período tão emocionalmente envolvente, durante o qual o disco foi produzido. O álbum também conta com duas regravações: Dos Cruces, de Carmelo Larrea e a surpreendente Youkali Tango, de Kurt Weil, que evidencia no charme da língua francesa o timbre sedutor de Letícia, acompanhado pelo acordeon vibrante de Bebê Kramer.

    A beleza da voz de Letícia Persiles mais uma vez rouba a cena em Catavento, em melodias suaves e tenras como que cheias de saudade do próprio tempo:


Seca a desabafar, se acabar, no meu
lugar, sabe lá, sabiá, Sabah, se o
mar, o mar de lá, delatar, no céu o
venta a cantar, catavento a me
tragar, traga me logo o lugar,
daquele tempo que não passou,
atemporal, temporal de amanhã e
hoje a manhã se estenderá e a
tarde está te esperar, te esperas
nua, lua e crua.
vem, ventura minha que já sou tua e a jurar pro vento, tempo a curar, vento a passar e passa que sara, Santa Sarah, rogai por nós ao luar e ao passarinho que foi cantar do ninho, o nosso niño, nosso lar.

      Os Versos e as Horas encerra o disco com o mesmo elemento castelhano que abre a primeira faixa, dando assim uma estrutura harmoniosa ao disco. Vale a pena falar um pouco sobre a faixa-bonus Quem Sabe, uma regravação da canção de Carlos Gomes feita pelo Manacá para a mini-série Capitu em 2008. A presença dessa canção no disco é um reconhecimento de Letícia ao carinho que os fãs tinham pelo seu trabalho anterior, ao mesmo tempo que nos possibilita reconhecer o quanto a artista mudou desde então, desenvolvendo-se musicalmente como a artista mais madura que escutamos em As Cartas de Amor e Saudade.


     Antes de encerrar o post, eu não poderia deixar de falar da fantástica arte do álbum feita por André Luiz Machado com ilustrações da própria Letícia. Assim como no disco do Manacá, podemos perceber diversas referências folclóricas, mas dessa vez com um toque mais pessoal, indo desde recortes da dança da cigana do clip de Diabo com o Manacá até a ternura dos riscos de giz da infância que Letícia veem contemplando com seu filho. Agora um fato pessoalmente curioso: Dando uma olhada nos encartes dos discos aqui em casa, notei o mesmo sobrenome que herdei de meu pai, Schoenardie, nos agradecimentos do disco. Assistindo a entrevista que Letícia no programa do Jô, descobri que a figurinista Thanara Schönardie é quem ajuda a cantora na criação dos figurinos característicos das apresentações musicais de Letícia Persíles desde o Manacá.  Felizes coincidências...

       É isso, pessoal. Se você ficou com vontade de conhecer o disco, não hesite e vá logo atrás do seu. A gente se vê no post de terça-feira, aquele abraço!

Felipe Essy

8 comentários:

  1. Oi Felipe.

    Olha, eu te confesso que sou meio chato para gostar das coisas. Mas estou achando as tuas postagens de ótimo nível, de bom gosto, muito legal mesmo. Parabéns amigo. Continue assim.

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    1. Grande amigo, muito obrigado mesmo! Fico muito feliz ao saber que estas gostando de meus textos. Aquele abraço! ;)

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  2. Parabéns Felipe Essy! Belo trabalho sobre a Letícia! O CD As Cartas de Amor e Saudade é lindo...Vale a pena conferir! Ah! Seu blog é show!!!

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    1. Oi Nailde! Valeu mesmo! Me apaixonei pelo disco e já nem tiro mais do som por que não paro de escutar hehehe ;)
      Um abraço!

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  3. ameiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii...Felipe Essy .. tudo sobre Letícia é ótimo e que bom ,assim .. o trabalho dela será mais reconhecido .. e estamos aqui para a ajudá-lo a divulgar .. amamos a leticia persiles .. Parabéns pelo post ..

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    1. Muito obrigado Berna! Fico feliz que tenha gostado tanto do post. Eu adoro o trabalho da Letícia, ele traz coisas maravilhosas da nossa cultura, mas pouco difundidas nos grande meios. Um abraço! ;)

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