domingo, 21 de julho de 2013

A Nova Capa do Homem de Aço

      Desde X-Men em 2000, nós estamos acostumados com um certo padrão nos filmes de super-heróis, com algumas exceções como Watchmen e Batman, mas não é por acaso, pois ambos são da DC Comics que já foi reconhecida no passado pelas adaptações mais lúdicas de seus personagens para o grande publico, mas hoje finalmente reconheceu que sua nova fase nos cinemas não pode repetir a velha fórmula, aprimorada e dominada pela Marvel, e sim ousar em um bom filme feito para contar uma história e não para apenas entreter as pessoas no cinema. Assim, Homem de Aço definitivamente abriu as portas apontadas pela trilogia Batman de um novo caminho a ser explorado nos filmes de super-heróis.


    Não vá ao cinema esperando ver um blockbuster sobre um super-herói, por que você vai sair decepcionado. Não é um filme sobre o personagem principal, mas sobre a mitologia que o envolve e muito mais do que um fã de quadrinhos poderia ter esperado de um filme hollywoodiano. A produção é impecável nos efeitos e figurino, embora a fotografia não chame a atenção e mesmo assim o que mais impressiona é o roteiro, a história que está sendo contada e como ela se constrói aos poucos através das interações entre os personagens. 

     O novo filme do Superman, dirigido por Zack Snyder, soube aproveitar elementos que deram certo na produção de homenagem de Superman: O Retorno (2006) e os caminhos abertos por e Watchmen, explorando de uma forma que finalmente consiguiu tornar o alien Superman em um homem de aço.

O texto completo sobre o Homem de Aço a seguir contém Spoilers,
mas se você não se importa então confira:


      Assim como todas as histórias do Superman que contam suas origens, o filme começa mostrando Krypton onde seu pai Jor-El descobre a iminente destruição de seu planeta por fatores naturais e envia seu filho para a Terra. Eu soube que Russell Crowe interpretaria Jor-El pouco antes de assistir o filme e não consegui conceber a ideia de como ele poderia fazer esse papel, tão diferente de seus anteriores, no entanto assistindo o filme me surpreendi reconhecendo que Russell não tentou re-interpretar o pai filosófico e distante de Marlon Brando de 1978, mas um homem de opinião forte o suficiente para inspirar aqueles que estão em dúvida sobre si mesmos.

    Muitas pessoas devem ter se surpreendido com o quanto a história se passa no espaço mostrando sem pressa os últimos momentos de Krypton e os acontecimentos que ocasionaram no conflito entre Superman e Zod, mas creio que esse foi o grande mérito do filme, mesmo eu não gostando de histórias futuristas. Tanto nos quadrinhos quanto nos filmes, Kryton sempre foi fascinante e nunca completamente explorada, focando sempre em como Clark Kent vestia seu traje extravagante para salvar a humanidade, no entanto o novo filme de Zack Snyder é muito maior do que isso, mostrando o que realmente levou Jor-El a enviar seu único filho ao espaço e depositar nele tanta esperança como se fosse a ultima chance de seu povo, construindo assim uma significação muito maior do que o personagem representa.


     Com a destruição de Krypton, esperamos que a nave caia no meio de uma plantação e Jonathan e Martha Kent encontrem o garoto de aço, mas nos deparamos com um homem de barba desleixada que pula de um emprego para o outro existindo a margem da vida humana como um prisioneiro de sua condição sobre-humana, incapaz de construir uma vida normal como seus ex-colegas, vizinhos e antigos amigos. Esse é o Clark Kent do roteirista David Goyer, que pela primeira vez nos cinemas encarna uma personalidade humana, constantemente em conflito com o que os seus princípios morais o obrigam a fazer com seus poderes e de tudo que abre mão para segui-los.

      O Superman de Christopher Reeve era carismático e divertido, mas raramente duvidava de seus princípios e qualquer conflito existencial parecia ser facilmente superado com a salvação do mundo, o que distanciava o personagem de qualquer reação legitimamente humana e consequentemente do publico, que lidaria com muito mais dificuldade numa situação e condição semelhantes. Nessa nova representação do Superman, a construção da personalidade contida e racional do personagem é mostrada através de flashbacks, assim como o filme de Bryan Singer fez brevemente no filme de 2006, de modo a explicar para o publico como o humano Clark lidou com seus poderes como uma pessoa normal que várias vezes questiona seu pai no por que não usá-los para sua própria vontade, mas conforme ele cresce, parece inevitavel que Clark não aguenta mais fingir que não é melhor que todo mundo e não irá mais obedecer seu pai Jonathan, apenas uma fazendeiro de fim de mundo, no entanto uma única cena conseguiu ligar essa ruptura moral aparentemente inevitável de Clark entre ele e o que seu pai lhe dizia para fazer com o austero e resoluto Superman do restante do filme:



      Após uma discussão sobre Clark controlar seus poderes, ele renega Jonathan como seu verdadeiro pai, que até aquele momento parecia exageradamente rígido, mas ao estar prestes a morrer, Jonathan estende a mão em sinal para que Clark não se exponha às outras pessoas para salvá-lo, mostrando que todo seu discurso era pela proteção do  seu filho e por tudo que ele era capaz de fazer e não vergonha pelo o que ele era, fazendo com que Clark pense no segredo de suas capacidades como uma consideração àquilo que seu pai morreu para defender.


      Talvez a única coisa que tenha deixado a desejar no filme foi a escolha da atriz para representar Lois e a personalidade da personagem. Note que eu não falei da interpretação de Amy Adams, mas do papel dado a ela. Originalmente Lois é uma mulher de personalidade e constantemente se mete em apuros por ações equivocadas, no entanto o que vemos no filme é apenas uma mulher comum. Apesar de um pouco acelerado, a ligação entre Lois e Superman é justificada e a presença da personagem não compromete o filme, ao contrário da Jane Foster de Natalie Portman em Thor (2011).

      O refúgio polar de Superman na Fortaleza da Solidão onde ele consultava os conselhos gravados por seu pai Jor-El tornaram-se um elemento importante no desenvolvimento da psicologia do super-herói. Zack Snyder contextualizou essa ideia para a nossa época tirando Jor-El da tela de uma gravação para a personificação holográfica de um sistema de computador que se instala em qualquer aparelho ao qual se conecte por uma espécie de pen drive enviado junto com seu filho para a Terra. Assim Russell Crowe faz uma interpretação magnífica mesclando a ausência de reação de um construção artificial com os trejeitos do personagem que a construiu à sua imagem e é através dessas duas "encarnações" de Jor-El é que assistimos o desenvolvimento do antagonista principal: O genreal Zod.

      A personificação do vilão interpretada por Terence Stamp tornou-se icônica e a falta de superioridade na expressão e postura da versão de Michael Shannon não parecia que iria convencer, mas a partir do momento que entendemos que o Homem de Aço não tenta repetir a personalidade nem do Superman nem do Zod dos filmes clássicos, nos permitimos notar o quanto os novos trajes militares são muito mais legais que as roupas árabes de 1980 e que Faora cumpre muito melhor a proposta que a personagem inspirada nela, Ursa, apresentou em Superman I e II. Non, o outro kryptoniano seguidor de Zod nos filmes clássicos, também faz uma breve e não anunciada participação como o anônimo guerreiro brutamontes. Algumas pessoas sentiram falta de Lex Luthor no filme, mas os atentos talvez terão notado o nome do vilão num caminhão destruído durante a luta entre Superman e Zod.


    Terminado o filme, eu ouvi várias pessoas comentando o fato de Superman destruir Metrópolis inteira para derrotar Zod, mas isso é algo que eu sempre achei que deveria ter acontecido, afinal Clark ainda não domina totalmente seus poderes e no calor de uma luta ninguém presta muita atenção no que está fazendo, sendo assim faz todo sentido - além de mostrar do que as produções da DC também são capazes. O filme encerra com Clark se mudando para Metrópolis e justificando o por que trabalha de repórter, deixando um bom gancho para uma sequência.

      O filme do Homem de Aço não é apenas um filme sobre a origem do Superman, mas uma história sobre a mitologia do personagem que abrange outros mundos para uma futura ligação com o Lanterna Verde e outros futuros membros da Liga, no entanto eu duvido que a DC encabece essa nova franquia pensando em fazer um novo Vingadores, por que já ficou claro que as adaptações desses personagens não serão para o grande publico que compra copos com os personagens estampados, mas para aqueles que compram revistas amareladas.

Felipe Essy

6 comentários:

  1. Superman, Superman... onde você estava??? Fui ao cinema assistir ao filme do Superman e me deparei com um filme sobre um ataque alienígena na terra onde por acaso tinha um cara fantasiado de Superman que ainda por cima esqueceu de vestir as cuecas por cima das calças. A todo tempo eu esperava que o Will Smith aparecesse para salvar o mundo de tantas naves ... o que ? Não era Indenpendence Day II??? A tá, no final lá tava o Zod e o Superman lutando .. agora sim parecia coisa de quadrinhos. Sou chata, eu sei, talvez mais saudosista e nostálgica com os filmes antigos. Não gostei! O cara nem vestia cuecas!!!!

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    1. Acho que depois de tanta gente falar daquelas cuecas, tirar era o mínimo que eles podiam fazer. O uniforme clássico do Superman é tão antiquado para o cinema hoje em dia quanto o uniforme amarelo do Wolverine, que virou até piada no filme. Eu acho que o personagem do Superman já foi bem explorado em outros filmes deixando outras coisas em segundo plano, como Krypton por exemplo, por isso eu achei bem bacana eles terem explorado tanto a mitologia do homem de aço quanto o próprio personagem, abrindo novas possibilidades de desenvolvimento da história. Estou torcendo para um segundo filme!

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    2. Concordo contigo Marcia Peixoto,sou tbm nostálgico em relação aos velhos filmes do homem de aço,Christopher Reeve foi um ícone num papel que apesar de não mostrar tantos detalhes sobre o que fazia Clark Kent antes de se tornar no repórter do planeta diário mas foi o carisma do ator e também de Gene Hackman como Lex Luthor que fez da aquela série de filmes cult movies.Não curti esse ator inglês Henry Cavil que fez o péssimo Imortais(com aquela sangria desatinada) e vi mais dois filmes dele e desculpa mas não vi nele um sucessor a altura de Christopher Reeve e até ouso a dizer que Tom Walling é melhor em dramatização do que Henry Cavil.Mas foi um crítica na boa,não to desrespeitando a coluna sua Felipe e até quero te dar meus parabéns pela matéria sobre o tema.Aliás,o seu blog é bem legal!
      E quero comentar também sobre a noticia que vazou de hollywood a pouco sobre uma possível sequência desse novo superman onde os dois super-heróis ícones de muitas gerações estariam no mesmo filme,Batman e Superman mas claro ainda não acharam um substituto a altura de Christian Bale que fez um "gigante" Batman na minha opinião.

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    3. Capaz Edu, eu também gosto muito do Christopher Reeves e não tiro tua razão. O carisma dele é mesmo inegável, mas eu gosto muito quando uma trama explora de maneira mais extensa os mesmos conflitos existenciais num herói que uma pessoa comum teria em situações semelhantes e o Homem de Aço me "satisfez" mais nesse sentido, mas isso é algo muito pessoal, claro. De qualquer forma eu acho que os dois tem grandes méritos dentro das suas propostas - que são diferentes e por isso tão divergentes!

      Legal saber que tu curtiu do blog, é realmente bacana quando o pessoal também participa dos posts. Apareçe de novo para dar tua opinião ;)
      Um abraço!

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    4. Carlos em alguns momentos do filme juro que eu consegui enxergar Tom Walling no lugar de Henry, talvez por ser a maior fã de Samllville, meu imaginário é tendencioso. Quanto ao carisma do ator eu comentei com o Felipe quando saímos do cinema que o Tobey Maguire conseguia ser mais expressivo com seu Homem-aranha chorão, Henry Cavil não me convenceu nem quando beijou Lois, um beijo deslocado no roteiro diga-se de passagem.
      Quanto ao uniforme do Wolverine, Felipe, sabemos que o nosso anti-herói mutante é durão, mau-humorado, vingativo e egocêntrico o que lhe vale uma troca de uniforme moldando-o de acordo com sua personalidade o que não pode ser dito do Superman que é o cara mais chato que existe, nega a si mesmo e ao amor de sua vida para salvar o mundo. Pense no Superman como Clark e perceba que ele é um cara atrapalhado, meio bobão, o tipo de cara que sim, colocaria as cuecas por cima das calças. Superman tem duas identidades, já Wolverine não.
      Ah e tomara que não tenha uma sequência para você não me obrigar de novo a ir ao cinema assistir a um filme que está fadado ao fracasso simplesmente porque o cara esqueceu das cuecas!!!!!!

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  2. Eu não achei o ator inexpressivo, muito pelo contrário, várias cenas com narração e sequências longas sem diálogos exigiram muito do ator que muitas vezes utilizava apenas do olhar. Acho que aquilo que realmente está dando essa sensação é que o desenvolvimento do personagem não é feita através de tantos diálogos quanto normalmente eram feitos nos filmes e séries. Talvez isso fosse uma forma de distanciar o Superman do publico representando-o como algo superior - isso faria sentido tendo em vista os elementos "divinos" nessa nova versão.

    Agora sobre as cuecas (eu não acredito que estamos falando sobre isso! rsss) eu acho que já tava mais do que na hora de tirar do uniforme. O Superman teve sua primeira HQ publicada em 1933 e sua roupa praticamente não mudou desde então, enquanto quase todos os outros tiveram uma mínima mudança, tendo em vista que roupas de cores sólidas e contrastantes já não caiam tão bem. A representação da roupa do Superman como uma cota de malha futurista herdada de seu pai fez muito mais sentido na minha opinião do que uma fantasia feita em casa pela Martha Kent!

    OBS: Como eu adoro discutir esse tipo de coisa!!

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