quinta-feira, 13 de junho de 2013

Grande, Grande Gatsby!

      O título não exagera em nada o filme de Baz Luhrmann adaptado do romance de F. Scott Fitzgerald. Confesso que não conhecia a obra até ver o cartaz de promoção do filme no Iguatemi, mas não pude deixar de me interessar por aquele poster charmoso da década de 20 com cara de mega musical, e não era por acaso: Luhrmann dirigiu o aclamado Moulin Rouge! e decidiu se arriscar mais uma vez nessa releitura de O Grande Gatsby.


       Eu realmente não esperava que a crítica não gostasse da produção e que os cinemas (os gaúchos pelo menos) não apostassem no filme, que disponibilizaram apenas uma sala para sua exibição. Eu creio que o desagrado venha de um equivocado engano em enxergar o filme como uma adaptação literária e não como uma releitura. Ao invés de explorar as problemáticas dos personagens e sua sociedade num drama como a maioria das adaptações de clássicos literários faria, o filme de Baz Luhrmann constrói uma representação artística do livro de modo que o espectador encontre elementos no filme que lhe remetam a sua própria sociedade para que ele entenda melhor o contexto que o livro descreve, mas assim como o cinema americano é cheio de possibilidades, ele também é uma prisão: O formato não convencional do filme e o contraste entre a trilha moderna e montagem de época desagradaram aqueles que esperavam um drama tradicional, mas a verdade é que o filme é incrível, e todos que foram de boa vontade para o cinema conscientes da proposta do trailer não se decepcionaram. Você pode conferir o trailer aqui:


       Eu e a Márcia fomos no Bourbon Country comprar os ingressos para o filme pouco antes da sessão temendo que não houvesse mais lugares disponíveis, por que a estreia tinha acontecido um dia antes, mas surpreendentemente só duas pessoas já haviam marcado lugar. Não sei se foi por que a sessão era cedo, mas eu achei curioso ver a sala lotada por pessoas de idade. A segunda surpresa do filme foi escutar o barulho de um projetor analógico atrás da gente. Nossa, fazia muito tempo que eu não via um filme projetado e devo dizer que a qualidade foi excelente. Sem falsos romantismos, mas não vou negar que o barulho do rolo de película correndo pelo projetor teve seu charme, ainda mais assistindo um filme de época. O filme começa mostrando os logos dos estúdios e produtoras num turvo preto e branco, nos antecipando a viagem temporal que vinha a seguir.


    Um moldura dourada com o charme dos filmes mudos aparece  e se expande nos tragando para dentro da cena de abertura: o brilho do farol em frente a casa de Daisy, a paixão secreta do enigmático Gatsby que oferece festas deslumbrantes toda semana para a cidade inteira em sua casa, mas que no entanto não é conhecido por ninguém - até que o jovem Nick Carraway se muda para casa ao lado da mansão na cidade que lhe prometia grandes oportunidades. Logo Carraway conhece a fama de seu misterioso vizinho que passa a se aproximar e aos poucos revelar a verdadeira história que estamos assistindo.

     O elenco inteiro realizou uma trabalho impecável na interpretação dos personagens e é importante deixar claro que Leonardo DiCaprio não foi o único responsável. O ator vivencia atualmente a melhor fase de sua carreira recebendo o reconhecimento unânime da a crítica e do grande publico que finalmente desvencilharam seu trabalho da imagem estigmatizada de ator-manequim de Titanic, no entanto acho um exagero dizer que ele é o único responsável pela qualidade do filme. Na verdade, se eu fosse creditar alguém seria Tobey Maguire, que conseguiu transparecer de forma convincente as diferentes etapas de seu personagem na trama, indo desde o perfeito sonhador do início até o perturbado escritor do final, no entanto tanto a crítica quanto o publico parecem enxergar na superficialidade do seu personagem em O Homem-Aranha um reflexo de sua competência como ator, quando na verdade sua grande capacidade de transmitir as emoções e conflitos internos do personagem foi o que salvou o filme do aracnídeo de ser uma adaptação pastelão. Outro destaque no filme é Joel Edgerton que aparentemente interpretaria apenas um playboy coadjuvante, mas desempenhou um ótimo papel como traído e traidor Tom Buchanan.

Os figurinos de Catherine Martin lado a lado com os croquis de Miuccia Prada e Miu Miu.

      A produção do filme é de encher os olhos, nos fazendo sentir o mesmo deslumbramento que o modesto Nick Carraway sente ao se deparar com as festas extravagantes de seu vizinho Gatsby. O impecável figurino desenhado por Catherine Martin foi desenvolvido em parceria com Miuccia Prada e Miu Miu que auxiliaram na ambientação filme através das roupas que refletiam o crescente interesse da aristocracia dos Estados Unidos sobre o estilo europeu e a recém libertação feminina de alguns obstáculos no guarda-roupa, mostrando as pernas e os ombros, emoldurados por uma maquiagem marcante de lábios vermelhos e olhos que se destacavam. Tudo com toda exuberância de pedrarias, metais e outros acessórios usados pelas mulheres, como as jóias utilizadas por Carey Mulligan, que tinha que ser escoltada quando usava as peças para interpretar Daisy, desenvolvidas pela Tiffany que resolveu comemorar seu 175º aniversário com essa colaboração para O Grande Gatsby, inspirada na era de ouro do Jazz. Com todo esse glamour feminino, não restou muito aos homens a não ser a elegância simples dos smokings e ternos.


     O livro que inspirou o filme é uma representação construída por Fitzgerald sobre a sociedade em que ele e seus leitores estavam vivendo na época, foi uma obra contemporânea e o diretor Baz Luhrmann não queria que as pessoas assistissem a Grande Gatsby de uma forma distante, como se fosse um filme de época. A agitação e estravagância das festas de Gatsby não teriam o mesmo impacto que teve na época para o publico de hoje, era necessário que as pessoas entendessem o deslumbramento do jovem Carraway diante daquele mundo efervescente. Assim surgiu a ideia de criar uma trilha que fundisse gêneros musicais atuais com seus equivalentes da época fazendo o publico sentir aquele momento: a transgressão do rap e hip hop com o jazz que deixava a marginalização para ser consumido nos bares clandestinos americanos, também a música eletrônica que nos transmite a mesma agitação que o novo ritmo dançante do swing vinha trazendo aos salões da época. Muita gente não gostou, não entendeu ou preferia que o filme tivesse uma trilha tradicional, mas o mesmo fator que prejudicou a bilheteria do filme será o motivo de ele ser lembrado na história do cinema, assim como o livro de Fitzgerald também foi, mas oque os icebergs afundam a história não esquece no fundo do oceano.


Felipe Essy

PS: Não pude resistir a comprar o livro na Cultura depois do filme, mas também: uma edição bilíngue com uma linda capa dura que estava por uma pechincha! Pediu para ir para minha casa né? Recomendo a leitura ;)



2 comentários:

  1. Eu tive o livro há tempos atrás e no entando o troquei por outro, naquela época a leitura não me agradou muito, agora me sinto um tanto quanto arrependida por isso...
    Mas o filme me parece absolutamente encantador, espero poder assisti-lo em breve~

    bjks

    http://diamond-dollie.blogspot.com.br/

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    1. Oi Suki, um livro depende do nosso ânimo às vezes e eu adorei o Grande Gatsby, pois a escrita de Fitzgerald foge da literatura pomposa e flui num ritmo bem agradável. Muita gente fala que o diretor Baz Luhrmann tentou seduzir o espectador com a imagem, mas foi exatamente oque Fitzgerald fez no livro que é bastante minucioso nas descrições de ambiente e emoções.
      Muito legal teu blog, parabéns ;)
      Abraços

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