terça-feira, 9 de abril de 2013

Renato Russo vai ao Cinema


      Mais famoso pelo o que a mídia diz que ele é do que pelas pessoas que realmente conhecem seu trabalho, Renato Russo sempre foi uma fonte interminável de assuntos e dessa vez não poderia ser diferente. O ambicioso projeto de adaptar "Faroeste Caboclo" se tornou realidade e enquanto as previsões de como ele vai ser pipocam, eu resolvi escrever esse post sobre a canção que inspirou o filme, mas principalmente seu criador.

        Renato Russo compôs "Faroeste Caboclo" em 1979 se inspirando nas estórias musicadas de Bob Dylan, especialmente Hurricane, que conta a história real de um boxeador negro que foi preso injustamente acusado de ter cometido um assassinato quando na verdade era apenas uma peça no jogo de cartas marcadas entre policiais e bandidos americanos que precisavam culpar alguém e ninguém melhor que um negro nos Estados Unidos racista de 1966.

        Embora o pobre homem somente tenha sido libertado seis anos depois de Renato Russo compor sua musica, o rapaz de Brasília não pode deixar de se inspirar na representação da corrupção e marginalização racial que Dylan construiu quando o Brasil dos anos 70/80 parecia exatamente assim – e ninguém podia falar nada. Como diz o encarte do vinil “Que País é Este?”(1987) em que a música foi lançada pela primeira vez, nos anos oitenta essas canções já não soavam tão fortes e rebeldes quanto antes, mas mesmo assim “Faroeste Caboclo” junto com “Conexão Amazônica” foram censuradas, a primeira pelos palavrões e a segunda pela temática explicita sobre o tráfico de drogas no Brasil, embora “Faroeste” também falasse sobre essa questão. Com uma versão editada em que os palavrões eram abafados por efeitos sonoros, “Faroeste Caboclo” pode ser executada nas rádios e seu sucesso foi enorme.

A banda Aborto Elétrico em 1981, que mais tarde daria origem ao Legião Urbana.



         Algo sobre o qual eu sempre gosto de falar é dessa cúpula de cristal duvidosa em volta do Renato Russo criada pela mídia que muitas vezes deixam turva a imagem desse artista. Ao contrário de Raul Seixas e Cazuza, o Renato foi um dos poucos compositores que criaram praticamente sozinhos as suas melhores musicas, desde os acordes simples até as letras. Renato Russo se diferencia dos outros citados por que não ele era apenas um letrista pensador como Cazuza ou Raul, mas um compositor musical de fato. Se você escutar “Eduardo e Mônica”, “Boomerang Blues” ou até a própria “Faroeste Caboclo” você vai perceber qual era a identidade musical de Renato Russo e como isso definiu o Legião Urbana. Então se algum dia você se sentiu intimidado em admitir que você gosta dessas musicas, sinta-se a vontade para as cantarolar por aí, por que elas são trabalho de um artista e não enlatados fonográficos.

Cena do filme que estreia em 30 de Maio.
        Recentemente assisti o trailer do longa Faroeste Caboclo e tenho que confessar que me surpreendi. Quando eu fiquei sabendo da ideia de adaptar para o cinema, minha primeira reação foi pensar que a beleza da canção era justamente imaginar o cenário construído pelas palavras de Renato emoldurada pelo resto da banda, no entanto René Sampaio e Paulo Lins resolveram fazer mais do que apenas uma transposição de uma canção para as telas, mas uma ampliação das suas temáticas e recursos narrativos em um filme que aparentemente não quer apenas vender ingressos, mas também comprar seu lugar na história do cinema nacional. Posso estar exagerando, mas ou eu estou muito errado ou isso vai dar muito certo. Assista o trailer abaixo e tire suas próprias conclusões:



        Muita coisa ainda tem para ser dita sobre esse filme e a própria canção, mas isso eu só vou escrever depois de assistir. Aguardem!


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