quarta-feira, 3 de abril de 2013

A História sem Pátria



       Com certeza não é esse tipo de parabéns que se espera em um aniversário, mas nestes 253 anos de existência que Santo Antônio da Patrulha esta completando muita coisa aconteceu e outras não foram feitas até hoje. Caso você esteja se perguntado por que eu disse 253 anos e não 202, é basicamente  por que a cidade foi fundada em 1760 e comemora-se na verdade seu "status" de município oficializado em 1811. Se você quiser conhecer um pouco mais da história da cidade, clique aqui, pois nesse post iremos ver algo diferente.

       Eu estava lendo uma reportagem sobre o aniversário da cidade semana passada e nela li algumas coisas sobre os pontos turísticos da cidade, na maioria monumentos ou antigas construções. Aparentemente apenas um boa matéria para ler, mas meu pensamento sobre aquilo não parou depois da leitura da última linha. Qualquer um que se interesse pela história de Santo Antônio já cansou de ouvir o município fazer publicidade com seu patrimônio histórico enquanto permite a demolição de casas centenárias e pivôs do desenvolvimento da cidade, quando não de toda região do litoral norte. Não estou me queixando dos veículos ou estabelecimentos privados que usam imagens de monumentos históricos da cidade, muito pelo contrário, a iniciativa privada é a única coisa que ainda torna a existência dessas relíquias possível. Eu estou criticando os órgãos e setores de gestão pública. Digo órgãos e setores por que não é só obrigação do prefeito e vice cuidarem disso, pois afinal temos 13 vereadores, além das secretarias e setores relevantes ao assunto, então acho que posso exigir mais do que umas mãos de tinta quando se trata de preservar o patrimônio da cidade, não posso? Então vamos lá.




        Recentemente algumas casas antigas foram demolidas por seus proprietários que já não tinham mais condições de preservá-las adequadamente, sendo duramente criticados quando na verdade não se tem nenhum tipo de incentivo – decente – ou auxílio para que esses proprietários preservem essas casas. Se você acha isso muito “arreganho”, saiba que é extremamente dispendioso manter uma casa antiga e resistir a tentação da praticidade moderna ou por acaso você acha que é bom viver numa casa de portas estreitas, teto baixo, janelas que dão diretamente para a calçada, além do preço altíssimo de reposição de peças que na época eram feitas com uma qualidade que poucos podem pagar hoje em dia. Não, não é fácil e não se tem nenhum motivo relevante para o cidadão comum sem muitos recursos manter uma casa dessas. Por causa disso eu posso afirmar com toda segurança que praticamente não há mais nenhuma casa na cidade que preserve totalmente suas características originais de construção. Telhados rebaixados, telhas trocadas por "brasilit", parapeitos de mármores que não existiam antes, piso de pedra onde era madeira, portas e janelas onde antes não havia e por aí vai. Pior é quando destroem todo um prédio antigo para tentar deixá-lo com uma aparência estilística antiga que ele não tinha como foi tragicamente o caso daquelas casas na esquina da Borges com a Marechal Floreano. Belas construções de época praticamente destruídos para se passarem por um casarão lusitano. Além de diminuir o número de exemplares arquitetônicos antigos, também desvaloriza as construções originais incentivando a ações extremamente prejudiciais a preservação do patrimônio histórico.


Rua Marechal Floriano em 1940 aproximadamente

Mesmo local em 2011

      Outra construção antiga que a cidade adora explorar para vender postais e estampar propagandas é a igreja da Matriz, que também já foi inúmeras vezes retalhadas e chega a ser difícil definir onde isso começou já que o projeto original nem previa uma torre, mas vamos nos ater ao mais recente:

Notem os ladrilhos nessa foto de 1950
Ainda com as águas-furtadas em 1950

Sem a torre em 1928.
       Quando a igreja passou por uma reforma nos anos 70, as águas-furtadas que ficavam no telhado foram simplesmente tiradas sem um bom motivo. O piso de ladrilho hidráulico (se não me engano) também foi coberto por um novo piso borrachudo que eu acho uma desgraça, principalmente para um igreja neogótica. Estou acompanhando as postagens sobre a atual reforma e, se meus olhos não me enganaram, estão substituindo o forro original de madeira por PVC. Pelo amor de deus, é uma igreja de 1928! Não acho que estou sendo ingrato reclamando da reforma – isso não é restauração nem aqui nem em lugar nenhum. Não é por que nunca fazem que eu tenho que engolir qualquer coisa. Eu sou cidadão e exijo que cuidem do patrimônio da minha cidade reconhecendo o valor que ele tem.

Atual reforma do forro da Matriz em 2013
         A praça da Matriz nem se fala. Atualmente parece mais um aterro em comparação ao que já foi: Funcionários da própria prefeitura destruíram os mosaicos durante a reforma duvidosa dos banheiros e nunca mais foi consertado, mas isso apenas se somou ao grande descaso em relação a importância histórica da Praça dos Açores, como originalmente foi chamada quando foi inaugurada nos anos 60, sendo quase impossível perceber a beleza das referencias às obras de Oscar Niemeyer hoje em dia. A Fonte Imperial ficou lá esquecida durante muito tempo somente recebendo várias camadas de tinta até que recentemente foram feitas algumas reformas dignas lá.

A Praça da Matriz recém inaugurada nos anos 60
Praça no início de 2011 "apagada" como todos os anos.

        Enfim, o que eu quero dizer é que os setores de gestão parecem não existirem quando se fala de preservação e valorização do patrimônio publico. Todos os projetos e ações nesse sentido são privadas e raramente – se não nunca – recebem algum incentivo relevante. O Baú da Borges, uma das melhores iniciativas dos últimos anos, é um bom exemplo. Totalmente independente e recebe  pouca ajuda da prefeitura além do fechamento da rua aos domingos. O Rotary e o Lyons também encabeçam muitos projetos sociais bacanas incluindo patrocinar a companhia de teatro Cogumelos Azuis que dificilmente teria recebido um auxilio semelhante do setor publico. Percebem por que me revolto? É como se uns se vangloriasse dos feitos dos outros. Não gosto de como as coisas estão, não sei se vão mudar e sinceramente acho que só resta proteger o que ainda existe e assumir que o passado foi destruído e que a culpa foi de muita gente - provavelmente nossa. 


F. Essy

2 comentários:

  1. Pouco o que comemorar.
    Santo Antonio da Patrulha precisa de ajuda. De fora. Alô IPHAN, IPHAE-RS? Precisamos desses órgãos mais presentes (ou melhor, finalmente presentes) na cidade.
    Já vimos que infelizmente o município não está tendo competência ou conhecimento pra fazer o que deve!

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    1. Realmente, Jorge. A situação já está mais do que calamitosa. O que mais me dói é que eu conheço muitas pessoas da comunidade que se preocupam de verdade com a preservação do patrimônio, mas no fim todos abaixo-assinados e revindicações empacam nas mãos de quem não se importa tanto.

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