domingo, 15 de julho de 2012

Um Sorriso no Olhar

                 Algumas pessoas são para nós como uma grande casa antiga. A casa esteve durante décadas no mesmo lugar e passamos diversas vezes por ela sem notá-la. Curiosamente um dia paramos em frente sem saber bem porque e reparamos no seu corpo entre as outras casas. Nosso olhar se deita sobre ela e passa a perceber as linhas de relevo, os pequenos detalhes na beira do telhado, as janelas emolduradas e tantas outras coisas que ficam a nos acariciar a percepção. Conscientes de nossa própria fascinação, temos um súbito desejo de nos aproximar, ver mais de perto, tocar as paredes e sentir sua textura. Então nos impulsionamos em direção a casa nos questionando sobre o real sentindo de fazer aquilo, mas antes de chegarmos a qualquer conclusão nossa mão já saudou a porta. As batidas ecoam pelo espaço oculto atrás da madeira desbotada e se perdem lá dentro. 

                Por um impulso tão inexplicável quanto o que nos levou até ali, agarramos o trinco e... crap - A porta está aberta. Por um momento ficamos ali parados sem saber o que fazer. Nos questionamos se devemos ou não entrar, mas logo concluímos que qualquer coisa que não seja viver a oportunidade seria a pior escolha, então adentramos a penumbra aos tropeços enxergando apenas o reflexo pálido de alguns metais e a cor enegrecida de alguns móveis. De repente notamos uma vela acesa sobre a cômoda que tínhamos certeza de que não estava ali antes. Com hesitação aceitamos o presente misterioso, mas percebemos que de nada adianta termos uma vela se não soubermos direcionar a claridade próxima daquilo que queremos enxergar. Nem sempre sabemos onde estão as coisas que procuramos, mas a única chance do fracasso é não saber o que procurar, então ou corremos atrás do que queremos ou deixamos a vela sobre a cômoda e vamos embora.

                Muitos não entendem o que nos levou a ficar toda aquela noite abrindo baús, nos apegamos a coisas que até aquele momento vivíamos sem e por que gostamos tanto daquela casa velha mesmo quando saímos de lá cobertos de poeira, mas com um sorriso no olhar nós sabemos a resposta desde a primeira vez que saímos daquela casa antiga e espiamos sobre o ombro pensando em voltar.


F. Essy

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