quarta-feira, 2 de abril de 2014

A Arte Vive na Cidade

    Buenas, pessoal! Vendo o espaço Qorpo Santo lotado até as escadas para a assistir a encenação de O Auto da Compadecida pela companhia Cogumelos Azuis semana passada, não pude deixar de perceber o verdadeiro espetáculo que acontecia naquele momento: a arte em movimento na cidade e é sobre isso que o blog divaga hoje.

Companhia Cogumelos Azuis ao fim do espetáculo "O Auto da Compadecida".
    Ser artista em Santo Antônio nunca foi fácil. Além das dificuldades de falta de recursos e incentivo comum à profissão, sempre foi difícil encontrar lugares para divulgar seu trabalho e atrair público - quando havia. Esse ciclo vicioso acabava por sepultar diversas iniciativas com alto potencial antes que elas se desenvolvessem completamente, mas isso parece estar mudando graças a iniciativas para desenvolver a produção cultural na cidade e o estreitamento entre artista e público.

   O teatro, por exemplo, se renovou em Santo Antônio através do trabalho desenvolvido em oficinas escolares com alunos do ensino-médio, seduzidos pela arte dramática que não apenas originou novas companhias, mas promoveu um intercâmbio de experiências entre os atores mais velhos e os iniciantes que aos poucos está criando uma cena artística (para não dizer "cena cênica") no município, mas outro fator também foi decisivo para que o sucesso da peça de O Auto da Compadecida acontecesse: comunicação.

     Mesmo artistas excelentes podem ter problemas se não tiverem uma demanda pelo seu trabalho, mas há algum tempo as pessoas descobriram como a comunicação instantânea e direta pode resolver isso. Você já deve ter ponderado se ia ou não em algum lugar dependendo se mais pessoas fossem também, e muita gente acaba não indo num show ou exposição por esse motivo. Não basta um cartaz ou mesmo um amigo seu te convidar, você tem que ter certeza de que outras pessoas também irão, mesmo que não seja para vê-las. É dessa forma que cada vez mais o Facebook anda servindo como ferramenta de movimentação de público, onde artistas convidam para a apresentação e amigos ajudam a incentivar outras pessoas a conhecê-los. Assim nossa arte aos poucos vai se organizando e desenvolvendo num novo ciclo: o incentivo virtual, a realização prática seguida de novos incentivos. O que era o problema tornou-se a solução. A pergunta que fica é se esse fenômeno está acontecendo só com o teatro, ou com outras artes também: sim e não.

Banda Percivais, agitando a cena local há dez anos.
    A música sempre foi algo muito forte entre adolescentes e não apenas aqui. Com a internet muito mais acessível do que era um tempo atrás, discografias inteiras ficaram ao um click de distância e a aproximação de pessoas com os mesmos gostos musicais se tornou muito mais fácil, no entanto esse consumo individual não parece estar beneficiando muito os artistas locais, pois a falta de espaço para atuarem - e às vezes até hostilidade contra seu estilo musical - desestimula as bandas a saírem da garagem e os sub-gêneros, por menor que sejam, costumam afastar adeptos de diferentes vertentes de um mesmo estilo, enfraquecendo a classe como um todo. Falta uma iniciativa de artistas locais mais experientes ou até mesmo de entidades e secretarias para orientar e estimular esses novos músicos, ajudando a fomentar uma cena musical sólida.

   A literatura é um caso diferente, pois o consumo das obras não conta com o envolvimento do artista que as criou e normalmente são apreciadas de uma forma mais particular, mesmo assim precisam de um destinatário tanto quanto as outras. É notável o crescente número de escritores em Santo Antônio, pois a informação e ferramentas virtuais tornaram essa atividade mais sedutora e eficiente. Somente em Abril já está anunciado o lançamento de cinco livros literários para esse ano, além de publicações científicas produzidas pelas escolas e outras instituições no município. Os blogs também veem sendo outro meio pelo qual a escrita, literária ou não, está se popularizando.

    As artes plásticas como desenho e pintura seguem clandestinas, sobrevivendo entre trabalhos de ilustração e eventos fora da cidade, mas sem desistirem de se fazerem presentes através de publicações virtuais e pequenas intervenções na paisagem da cidade como essa aqui:

Arte urbana flagrada em 2012
    Vale lembrar que não sou especialista no assunto, mas não posso negar que gosto de escrever sobre ele. Sendo assim espero que tenham gostado e perdoem qualquer equívoco. Um abraço!

Felipe Essy

2 comentários:

  1. Espaços, públicos ou privados, para apresentações dignas de música, de maneira versátil, abrangente, caprichada; exposição e divulgação destes por uma mídia inteligente e participativa, etc, etc. A falta destes elementos é que marginaliza qualquer movimento musical alternativo no Brasil, não apenas nas cidades pequenas.
    A Percivais me parece, tem mais de 8 anos, não? 2005? 2004? Por ai...

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    1. No caso de Santo Antônio, como os espaços adequados são poucos, e os que existem dificilmente abrem suas portas para estilos menos "populares", acho que uma boa alternativa seria organizar festivais independentes e encontros de bandas como acontece em alguns lugares.

      Desculpe a mancada, esqueci de somar os dois anos de quando fiz um release da Percivais em 2012. Deve ser uns 10 anos mesmo. Vou corrigir lá! Um abraço ;)

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