Buenas, pessoal! Andei meio sumido do blog nas últimas semanas, afinal férias é aquela coisa: um dia você está num lugar e no outro nem sabe onde vai, então acabei não conseguindo parar muito na frente do computador, mas voltando ao mundo WI-FI recebi uma daquelas brincadeiras de listar livros favoritos e fazendo um esboço de alguns títulos, percebi que eu precisava falar pelo menos um pouquinho do que eles significam para mim, resultando no post que você vê a seguir:
SILMARILLION - J.R.R. Tolkien
Quando eu fiquei fascinado pelo universo lendário criado por Tolkien depois de ler O Senhor dos Anéis, eu sabia que esse livro era uma leitura essencial para conhece-lo e entende-lo melhor, no entanto O Silmarillion não se trate de uma narrativa sobre outra história, mas várias histórias que se sucedem e entrelaçam durante três eras, algo denso para quem esperava apenas mais um passeio pela Terra-Média, por isso inicialmente esse era o que eu menos gostava da obra completa, porém conforme eu fui relendo alguns capítulos e compreendendo melhor a história de um modo geral, a beleza daquele livro complexo me deixou assombrado e hoje sem dúvida é o meu preferido. Mesmo depois de várias leituras, ainda tenho muito para ler de novo e entender melhor por que cada leitura é uma nova leitura. Pessoalmente uma das coisas mais legais do livro (dentre muitas) é como Tolkien explica a relação entre o primeiro Senhor do Escuro e o Criador todo poderoso.
O FANTASMA DA ÓPERA – Gaston Leroux
Meu professor de inglês na faculdade tinha uma paixão especial por peças musicais e fui enveredando pelo mesmo caminho. O fantasma da opera com toda sua presença de palco e seu tema retumbante foram suficientes para me fazerem procurar o livro e para minha surpresa descobri que sua história era muito melhor que as canções escritas por Andrew Webber para o musical. Na obra de Leroux, conhecemos pouco a pouco o personagem enigmático do ser que habita o subsolo da casa de ópera e, apesar de suas tramas cruéis, mostra-se cativante, nos conquistando com sua engenhosidade e dramaturgia. Um grande livro de poucas páginas, algo que os escritores aparentemente esqueceram como fazer.
HAMLET – Shakespeare
Assim como Machado de Assis, o importante em Shakespeare não é o conteúdo, mas a forma. Em outras palavras, o enredo trágico da morte da família dinamarquesa assolada pela vingança não é algo que surpreenda muito, tratando-se de temas comuns na literatura e no cinema, mas sim como Shakespeare representa os conflitos morais de Hamlet assolado pelo fantasma do pai que clama justiça pelo seu assassinato contra seu tio e a própria ideia de família, tudo isso escrito no século VI. Pela profundidade se encontra na forma do texto e não no enredo em si, versões condensadas ou “modernizadas” tiram totalmente o sentido da leitura, então se for se aventurar encare o texto original.
DOM CASMURRO - Machado de Assis
Não sou um puxa-saco do Machadão, como chamávamos na faculdade, mas há algo nas obras do Machado de Assis que eu sempre gostei e poucas pessoas se permitem notar: o humor. Embora eu tenha citado Dom Casmurro por ser meu preferido até agora do autor, em Memórias Póstumas de Brás Cubas a irreverência acida de Machado de Assim fica claro já na primeira página: "Ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver dedico como saudosa lembrança estas Memórias Póstumas”. O tédio das leituras obrigatórias de Assis reside mais na frieza com que normalmente lemos as obras canonizadas no altar da sala de aula do que pelo real conteúdo da obra.
ENDER'S GAME - Scott Card
Esqueça a adaptação para o cinema, que embora seja boa, não consegue transmitir os melhores aspectos do livro. Logo na introdução, Scott Card aborda sua própria forma de ver a literatura e como isso construiu o livro que originou vários outros no mesmo universo. Além desse fator extraliterário, Card consegue explorar diversas facetas de um povo que busca a superioridade, passando do oprimido para o opressor, enveredando por vários temas desde conflitos militares no espaço até os conflitos da relação entre a cultura dos conquistadores com a dos dizimados. Uma leitura agradável com muitas camadas de interpretação para aqueles que permitirem-se notar.
A ROSA DO POVO - Carlos Drummond de Andrade
Numa conversa de corredor de biblioteca, um amigo fingia me indicar um livro para não chamar a atenção sobre o tema da nossa discussão e no final do assunto ele me disse: “ – Leva o livro, tu vai gostar”. Tanto foi verdade que fiz outros amigos meus lerem também, tornando-se meu livro preferido de poesia até agora, embora eu não tenho um conhecimento vasto desse gênero literário.
O PEQUENO PRÍNCIPE - Saint-Exupéry
Minha mãe sempre me dizia para ler O Pequeno Príncipe, mas por algum motivo – talvez justamente esse – eu cresci sem jamais o fazer até que na faculdade minha adorável professora de literatura Terezinha Marques leu para nós a passagem da raposa, terminando às lágrimas e embargando nossas gargantas. Assim que eu li aquele que parecia apenas um livro infantil, compreendi perfeitamente por que ele é algo tão tocante ainda hoje: justamente por que explora temas – às vezes ásperos - da vida pela ótica crua de uma criança que desbrava as lógicas incompreensíveis do homem que acometem ele mesmo. Arrumando a antiga casa da minha avó onde moro atualmente, eu encontrei dois exemplares: um de 1960 e outro de 1975. Vendo que tinha a assinatura das antigas donas, pedi a todos que já tivessem pego emprestado assinassem na folha de rosto depois de ler.
PRIMEIROS CASOS DE POIROT - Agatha Christie
Um dia minha tia Ingrid entregou um livro de folhas muito amarelas mal presas à capa de uma autora que eu desconhecia me dizendo pouco mais do que apenas “leia que você vai gostar”. Bem, ele acabou ficando na estante um tempo e por algum motivo decidi folhá-lo e não consegui parar. A lógica do detetive belga de bigodes era desconcertante e a cada história dos breves contos a engenhosidade dos criminosos e seu perspicaz investigador era impressionante. Primeiros Casos de Poirot foi o primeiro romance policial que li e me fez apaixonar pelo gênero, no entanto curiosamente nunca gostei do Sherlock Holmes de Conan Doyle por acha-lo exagerado demais para fazer sentido, algo como o CSI que refaz o trajeto de uma bala de munição usando um estilingue. Aham, ta.
MOCKINGJAY - Suzanne Collins
Antes de mais nada, convém explicar que o livro em questão trata-se do ultimo volume da trilogia Jogos Vorazes, que optei por ignorar a tradução tosca de “A Esperança” por que é um verdadeiro desastre linguístico, mas não vou me deter nesse ponto. Assim como outros livros que cativam o publico adolescente, Mockingjay tem uma narrativa envolvente, mas destaca-se muito pela abordagem crítica dos mecanismos de manipulação e funcionamento da sociedade através de personagens que assumidamente não se interessam em virar heróis, algo claro no desfecho da trama. Katniss Everdeen poderia ter sido apenas mais uma dessas protagonistas femininas de livros adolescentes enfrentando uma grande causa em meio a um triângulo amoroso, mas Mockingjay mostra com uma beleza trágica que Katniss é apenas mais uma peça no tabuleiro como todo mundo, mas fazendo parte dele, também pode mudá-lo.
O TEMPO E O VENTO: O CONTINENTE - Érico Verissimo
Uma obra que já é grande por natureza em todos os sentidos: a história de um povo através das lutas silenciosas ou explosivas de inúmeros personagens ao longo de sete volumes. A obra-prima de Érico Verissimo é importante para mim não apenas por que tem um enredo envolvente com personagens cativantes, ou mesmo por que fala da formação do pequeno mundo rio-grandense em que vivo, mas pela maestria com que ele conseguiu reproduzir a assombrosa literatura do tempo, sussurrada pelo vento.
HISTÓRIAS PARA AS NOITES DE INVERNO – Ivone Selistre
A primeira edição à esquerda, com dedicatória ao meu pai, e a segunda a direita para mim. |
A ideia inicial era falar de apenas 10 livros, mas quando eu listei esses livros, não consegui tirar as Histórias Para As Noites de Inverno. Um livro que eu lembro de ver várias vezes pela casa, pois minha mãe dava aulas de literatura, mas não era para mim nada se não uma capa conhecida até que um tempo depois conheci a querida autora na ocasião da primeira feira do livro em Santo Antônio, em que foi patrona. Num encontro do Grêmio Literário em sua casa, ganhei de presente seu livro que me surpreendeu com o sabor da leitura, pois fiquei impressionado em saber que uma escritora tão talentosa morava a poucos passos da minha casa. Esse livro de poucas páginas e muita diversão me faz sentir orgulho de morar em Santo Antônio e empolgado imaginando quanta gente incrível tem por aí prestes a aparecer.
Espero que tenham gostado pessoal, por que para mim foi um prazer enorme falar desses livros. Ruim mesmo foi ter que escolher! Aquele abraço!
Felipe Essy
para nós, viciados em literatura é difícil escolher dez, onze livros, pois temos praticamente uma biblioteca em casa, sem contar o que lemos emprestado. porém alguns livros marcam mesmo algum momento de nossas vidas e se tornam especiais de alguma maneira. As vezes são até livros nada populares ou curtinhos, de autores desconhecidos ou de amigos que publicaram seus pequenos livros nada pretensiosos. Acredito que o que importa não é a profundidade da leitura mas como ela te toca de alguma maneira (falo isso porque sou louca pela saga Crepúsculo). Tenho livros preferidos, aqueles que leio e releio, tenho aqueles de um personagem perfeito que me fez querer ser igual, aquele escondido que não conto para ninguém que li, as sagas que me conquistaram , os autores preferidos pela forma como escrevem. Difícil escolher!!!! O importante é que no Brasil o número de leitores vem aumentando a cada dia, mas infelizmente a maioria são livros de fora do nosso país... devemos ler mais literatura nacional, da mesma forma que autores nacionais devem escrever mais fantasia , meu gênero favaorito!!!
ResponderExcluirVerdade, consumimos muito a literatura estrangeira, principalmente por que somos condicionados desde crianças ao modelo americano de vida e isso se reflete nos nossos gostos, consequentemente na leitura. Não é a toa que eu sou fascinado por Tolkien até hoje, mas acho que o principal problema de autores que escrevem fantasia hoje em dia de um modo geral é tentar reescrever o que outros autores já se consagraram fazendo. Scott Card fala algo muito interessante sobre isso na introdução de Ender's Game: "E então, como muitos outros leitores de ficção científica tem feito com o passar dos anos, eu senti um desejo enorme de escrever histórias que fariam pelos outros o que a de Asimov fizeram por mim. [...] Em ficcção científica, no entanto, a moral é que as ideias estejam frescas, interessantes e intrigantes; Você imita os grandes, não reescrevendo suas histórias, mas sim criando histórias que são tão impressionantes e novas quanto elas."
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