segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Minha Vida Crônica III

Nessa noite quieta, me lembrei de alguém. Não alguém que apertei as mãos e troquei sorrisos, mas que me cativou e me fez rir sozinho. Falo do pequeno habitante do planeta B 612, sim, ainda lembro do estranho nome do lugar onde mora o Pequeno Príncipe. Falo dele como alguém e não meramente como um personagem por que ele desde muito tempo tentava existir para mim e conseguiu, é claro. Até hoje não abri muitos livros e li menos ainda, mas despretensiosamente peguei aquele livro na biblioteca no colégio, atraído pelo título que me soava familiar como um eco de lembranças esquecidas. Abri a capa, meus olhos acabaram lendo uma frase e quando notei que já havia passado muito tempo submerso naquelas páginas, resolvi retirá-lo para terminar em casa e assim li O Pequeno Príncipe.
Um pouco mais cedo, quando o sol já se escondia no canto da janela atrás do monitor, minhas mãos repousavam sobre o teclado aguardando ansiosas, mas eu apenas me recostava mais uma vez na cadeira que a mesa da cozinha não sentiu falta. As últimas horas já tinham consumido tudo que eu realmente tinha para fazer no computador, mas sair dali parecia um futuro menos interessante. Então eu fiquei ali, esperando um comentário, uma foto ou qualquer outra coisa que me movesse quando na verdade eu tinha outras ocupações mais importantes. Eu já começava a considerar a desmotivante ideia de sair do computador para ver novela, quando resolvi teclar F5 pela última vez. Uma nova frase tinha sido postada.
“Para uns, as estrelas são guias. Para outros, elas não passam de pequenas luzes. Tu, porém terás estrelas como ninguém. Onde moro é muito pequeno para que eu possa te mostrar onde é a minha. Por isso minha estrela será qualquer uma e ao mesmo tempo todas aos teus olhos. Numa delas estarei rindo, então será como se todas elas rissem para ti. Será como se eu te houvesse dado, em vez de estrelas, montões de guizos que riem.
O Pequeno Príncipe.”
Subitamente senti como é estranha a nostalgia. É uma saudade doce que te toca num carinho suave e se afasta te lançando olhares, te atiçando, mas ela sabe que tu não pode tocá-la, por isso é tão sedutora. E o pequeno príncipe, mesmo sendo apenas um menino que fazia muitas perguntas e não desistia até tê-las respondidas, abriu minha casca dura da inocência seca e falou com o menino que fui. Me senti bem como quando passava a tarde brincando no pátio de casa. Levantei e saí do computador contente. Quando as luzes de casa já estavam apagadas, corredor sem passos e eu só no escuro do meu quarto, pensei no príncipe que ainda me cativava e me senti brevemente mais feliz como todos que riem sozinhos olhando para as estrelas.

F. Essy

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